domingo, 2 de julho de 2017

Qual é a Origem do Casamento Monogâmico?





Qual é a origem do casamento monogâmico? Talvez o melhor título para esse texto seria: Qual é a origem do casamento monogâmico na Bíblia?

Na Bíblia, especialmente no Antigo Testamento, há diversas passagens sobre o casamento poligâmico. Vemos o patriarca Abraão, seu neto Jacó, Elcana, o rei Davi, seu filho Salomão... E algumas passagens evidenciando a legitimidade do concubinato. Mas o que a Bíblia tem a dizer sobre isso? Quando se deu o momento da alteração do modelo poligâmico para o monogâmico?    

Um exemplo clássico da poligamia é o de Abraão, casado com Sara mas tendo como concubina sua escrava Agar, da qual teve um filho:


1. Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos, e ele tinha uma serva egípcia, cujo nome era Agar.
2. E disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de dar à luz; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai.
3. Assim tomou Sarai, mulher de Abrão, a Agar egípcia, sua serva, e deu-a por mulher a Abrão seu marido, ao fim de dez anos que Abrão habitara na terra de Canaã.
4. E ele possuiu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos.
(Gênesis 16:1-4)


E mesmo após a morte de Sara (Gênesis 22:1-2) Abraão desposou outra mulher, Quetura, da qual teve seis filhos homens. Além de sua segunda esposa, Gênesis ainda menciona várias concubinas, porém não lhes é dado um número exato:


1. E Abraão tomou outra mulher; e o seu nome era Quetura;
2. E deu-lhe à luz Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Jisbaque e Suá.
3. E Jocsã gerou Seba e Dedã; e os filhos de Dedã foram Assurim, Letusim e Leumim.
4. E os filhos de Midiã foram Efá, Efer, Enoque, Abida e Elda. Estes todos foram filhos de Quetura.
5. Porém Abraão deu tudo o que tinha a Isaque;
6. Mas aos filhos das concubinas que Abraão tinha, deu Abraão presentes e, vivendo ele ainda, despediu-os do seu filho Isaque, enviando-os ao oriente, para a terra oriental.
(Gênesis 25:1-6)


Esta passagem no início da Bíblia dá a entender que o casamento e o concubinato eram quase idênticos. Outro exemplo é o de Jacó, neto de Abraão, que após enganar seu irmão Esaú e fugir para a casa de seu tio (Gênesis 27:41-44) conheceu ele suas primas Lia e Raquel. Apaixonando-se por Raquel, Jacó teve que fazer um pacto com seu tio Labão, comprometendo-se a trabalhar por sete anos para se casar com ela. Entretanto, foi enganado e casou-se primeiramente com Lia, a filha mais velha, tendo que trabalhar mais sete anos para se casar com Raquel:


21. E disse Jacó a Labão: Dá-me minha mulher, porque meus dias são cumpridos, para que eu me case com ela.
22. Então reuniu Labão a todos os homens daquele lugar, e fez um banquete.
23. E aconteceu, à tarde, que tomou Lia, sua filha, e trouxe-a a Jacó que a possuiu.
24. E Labão deu sua serva Zilpa a Lia, sua filha, por serva.
25. E aconteceu que pela manhã, viu que era Lia; pelo que disse a Labão: Por que me fizeste isso? Não te tenho servido por Raquel? Por que então me enganaste?
26. E disse Labão: Não se faz assim no nosso lugar, que a menor se dê antes da primogênita.
27. Cumpre a semana desta; então te daremos também a outra, pelo serviço que ainda outros sete anos comigo servires.
28. E Jacó fez assim, e cumpriu a semana de Lia; então lhe deu por mulher Raquel sua filha.
29. E Labão deu sua serva Bila por serva a Raquel, sua filha.
30. E possuiu também a Raquel, e amou também a Raquel mais do que a Lia e serviu com ele ainda outros sete anos.
(Gênesis 29:21-30)


Elcana, pai do honradíssimo sacerdote e profeta Samuel, teve duas mulheres, Ana e Penina:


1. Houve um homem de Ramataim-Zofim, da montanha de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efrateu.
2. E este tinha duas mulheres: o nome de uma era Ana, e o da outra Penina. E Penina tinha filhos, porém Ana não os tinha.
(1 Samuel 1:1-2)


Apesar de não se tratar deste assunto, esta passagem trata de um maravilhoso milagre ocorrido na vida de Ana, a esposa estéril que, após seu voto com Deus, concebeu e em seguida teve (além de Samuel, consagrado à Deus) mais três filhos e duas filhas:


21. Visitou, pois, o Senhor a Ana, que concebeu, e deu à luz três filhos e duas filhas; e o jovem Samuel crescia diante do Senhor.
(1 Samuel 2:21)


Salomão, porém, é o mais notório entre os personagens do Antigo Testamento. Diz a Palavra que o rei, antes mesmo de pedir sabedoria, casou-se com a filha do faraó do Egito (1 Reis 3:1). Mas além de sua primeira esposa, é dito que Salomão amou muitas outras mulheres, desviando-se dos mandamentos de Deus e praticando a idolatria:


1. E o rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras, além da filha de Faraó: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias,
2. Das nações de que o Senhor tinha falado aos filhos de Israel: Não chegareis a elas, e elas não chegarão a vós; de outra maneira perverterão o vosso coração para seguirdes os seus deuses. A estas se uniu Salomão com amor.
3. E tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração.
(1 Reis 11:1-3)


Esta passagem não retrata apenas a idolatria de Salomão, mas também a violação de uma lei divina:


17. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração não se desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si.
(Deuteronômio 17:17)


Apesar desta lei referir-se exclusivamente aos deveres de um rei, é uma evidência de que no Antigo Testamento havia a legitimidade do casamento poligâmico.

Mas, ainda antes na cronologia bíblica, no livro de Levítico há uma lei claríssima de que Israel, na figura de povo de Deus, não deveria tomar duas mulheres, para que uma não fosse rival com a outra:


18. E não tomarás com tua mulher outra, de sorte que lhe seja rival, descobrindo a sua nudez com ela durante sua vida.
(Levítico 18:18)


Outra lei interessante é a dos deveres para com as viúvas. O homem que tiver um irmão consanguíneo que, falecendo ele, deixar uma viúva sem filhos homens, deverá se casar com ela e cumprir seu dever de cunhado para com a mulher de seu irmão. Aparentemente não importava se o cunhado já fosse casado.


5. Quando irmãos morarem juntos, e um deles morrer, e não tiver filho, então a mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a receberá por mulher, e fará a obrigação de cunhado para com ela.
6. E o primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão falecido, para que o seu nome não se apague em Israel.
(Deuteronômio 25:5-6)


Mas havia uma lei para o caso dele se recusar a se casar com a viúva, como consta a seguir:


7. Porém, se o homem não quiser tomar sua cunhada, esta subirá à porta dos anciãos, e dirá: Meu cunhado recusa suscitar a seu irmão nome em Israel; não quer cumprir para comigo o dever de cunhado.
8. Então os anciãos da sua cidade o chamarão, e com ele falarão; e, se ele persistir, e disser: Não quero tomá-la;
9. Então sua cunhada se chegará a ele na presença dos anciãos, e lhe descalçará o sapato do pé, e lhe cuspirá no rosto, e protestará, e dirá: Assim se fará ao homem que não edificar a casa de seu irmão;
10. E o seu nome se chamará em Israel: A casa do descalçado.
(Deuteronômio 25:7-10)


Conclui-se que, no Antigo Testamento, era lícito aos reis terem mais de uma esposa. Quanto ao povo, essa condição era limitada devido à rivalidade dentro do lar (como no caso de Elcana e suas esposas) e à lei do Levirato.

E quanto ao Novo Testamento? O que ele tem a dizer? Talvez a mais ilustre passagem sobre o casamento monogâmico se encontra na epístola de Paulo aos Efésios:


22. Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor;
23. Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo.
24. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos.
25. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
26. Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,
27. Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.
28. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.
29. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;
30. Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos.
31. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne.
32. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja.
33. Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido.
(Efésios 5:22-33)


Jesus, no evangelho de Mateus, também corrobora a observação do casamento monogâmico, tornando-o perpétuo mandamento, como consta a seguir:


3. Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?
4. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez,
5. E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?
6. Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.
7. Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la?
8. Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim.
9. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.
10. Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.
11. Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido.
12. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.
(Mateus 19:3-12)


Mas, contrapondo a essa declaração, Jesus também proferiu a parábola das Dez Virgens, usando o casamento poligâmico como analogia à sua pregação:


1. Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo.
(Mateus 25:1)


Porém, nesta passagem há um detalhe. Assim como Paulo indicou em Efésios 5:32, Jesus não referia-se à legitimidade do casamento poligâmico, mas ao noivo como a Cristo e as noivas (as dez virgens) como a Igreja. As prudentes ouviam e guardavam a Palavra de Deus, mas as loucas a negligenciavam, ficando de fora no dia do retorno do Senhor.

Algumas provas bíblicas de que a poligamia conjugal foi definitivamente abolida e o casamento monogâmico reiterado no Novo Testamento encontram-se nas seguintes passagens:


3. O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido.
4. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher.
5. Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência.
(1 Coríntios 7:3-5)

4. Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição, e aos adúlteros, Deus os julgará.
(Hebreus 13:4)


Dados os argumentos, conclui-se que o casamento monogâmico não se iniciou no ministério de Cristo, ou tampouco em qualquer outra passagem do Novo Testamento, mas no momento da própria Criação, ou seja, quando o homem e a mulher viviam juntos na presença do Deus Criador.

Como Jesus disse em Mateus 19:4, no princípio o casamento não foi poligâmico, mas perpetuamente monogâmico. Pela lógica, como pode um homem casado com dez mulheres fazer-se um com todas elas? Poderia ela dividir-se em dez para se fazer um? Neste caso, não seria ele outras dez carnes? Tal ideia não faria o menor sentido.

Fazer-se um significa tomar a costela de Adão e retorná-la ao seu próprio corpo, figuradamente casando-se com uma única mulher. E onde na Bíblia corrobora esta marcante teoria? Certamente em Gênesis 2:22-24, que diz:


22. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão.
23. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada.
24. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.
(Gênesis 2:22-24)
   

Concluindo, não está em Levítico, nem em Deuteronômio ou tampouco no Novo Testamento. Gênesis 2:24, eis aí o momento da fundação do casamento monogâmico.



- Eduardo Domingues 


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