sábado, 10 de fevereiro de 2018

A Terra Prometida - Parte 5 - Por Que foi Prometida?




[As opiniões apresentadas aqui são pessoais e passivas de alteração e/ou complementação]

Esta questão envolve um tema delicado, complexo e muitas vezes controverso. Por que Deus prometeu uma terra habitada por um povo para outro ainda em formação? Por que Ele prometeu desterrar uma nação inteira através da expulsão e do extermínio? Em outras palavras, por que Deus ordenou matar?

A decisão divina pode ter sua origem em Noé, em sua profecia em forma de bênção e maldição (Gênesis 9:25-27). Mas, além disso, Deus estava atento às práticas pecaminosas do povo cananeu, sendo-lhes necessário o inevitável juízo.

Conturbado em seu coração, Abraão pergunta à Deus como ele herdaria a terra prometida se ainda não tinha filhos. Deus reitera sua promessa, dizendo que sua descendência seria tão numerosa quanto as estrelas do céu. Impressionado, Abraão pergunta:

8. E disse ele: Senhor DEUS, como saberei que hei de herdá-la?
Gênesis 15:8
 
E então Deus lhe propõe uma aliança, respondendo-o em sonhos:

13. Então disse a Abrão: Saibas, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos,
14. Mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza.
15. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado.
16. E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia
.
Gênesis 15:13-16

O versículo 16 evidencia que os amorreus (descendentes de Amori, um dos filhos de Canaã) viviam em injustiça e pecado. Adicionado a isto, os cananeus tiveram quatrocentos anos para se arrependerem, mas não o fizeram, perdendo-se em seus maus caminhos (v. 13).

Mas o que exatamente era a “medida da injustiça” dos amorreus?

Avançando séculos no futuro, após a escravidão do Egito, Deus diz ao povo:

16. Porém, das cidades destas nações, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida.
17. Antes destruí-las-ás totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos perizeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor teu Deus.
18. Para que não vos ensinem a fazer conforme a todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o Senhor vosso Deus.

Deuteronômio 20:16-18

As abominações cometidas pelos cananeus eram práticas religiosas que muitas vezes envolviam orgias, estupros de virgens, sacrifícios de crianças recém-nascidas e o sepultamento de primogênitos nas fundações das casas para trazer boa sorte aos que nela habitavam. O site wol.jw.org diz:

“Imoralidade, adoração pagã e sacrifícios de crianças eram muito comuns em Canaã. O historiador bíblico Henry H. Halley observou que os arqueólogos, ao escavar a área, encontraram ‘grande quantidade de jarros contendo os despojos de crianças . . . que tinham sido sacrificadas a Baal [um deus importante dos cananeus]’. Ele acrescentou: ‘A área inteira se revelou como sendo cemitério de crianças recém-nascidas. . . . Era assim, praticando a licenciosidade como rito, que os cananeus prestavam seu culto aos deuses, e também assassinando seus primogênitos, como sacrifício aos mesmos deuses. Parece que, em grande escala, a terra de Canaã tornou-se uma espécie de Sodoma e Gomorra de âmbito nacional. . . . Alguns arqueólogos que têm escavado as ruínas das cidades dos cananeus admiram-se de Deus não as haver destruído mais tempo”.


O site bíblia.org também nos dá uma explicação, a seguir:

“Ao contrário do Deus único Iahweh, em Canaã eram cultuados várias dezenas de deuses cananeus e que partilhados com povos que viviam ao redor, destacavam-se Anat, irmã e consorte de Baal, especializada em sexo e matanças sangrentas; Mot, cujo o domínio são a morte e o deserto; Moloc, que se alegra com o sacrifício de crianças indefesas. Baal (nome que significa “senhor”), está entre os mais populares (no Antigo Testamento é citado várias vezes), bem como outros. Os rituais praticados pela população a estes deuses são cheios de simbolismos e atraiam a curiosidade dos desavisados. O povo de Israel várias vezes caiu nestas armadilhas e Iahweh, por este motivos, várias vezes, através dos profetas, contestou estas atitudes.


Deus também deixa claro que sua intenção não era apenas o extermínio de uma nação inteira, mas o cumprimento de uma promessa feita aos patriarcas hebreus. Todavia, o juízo dos cananeus já havia sido decretado devido a sua imensa impiedade.

5. Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela impiedade destas nações o Senhor teu Deus as lança fora, de diante de ti, e para confirmar a palavra que o Senhor jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.
Deuteronômio 9:5

O site dicio.com tem algumas definições para a palavra Impiedade:

  • Qualidade do que é ímpio.
  • Desprezo da religião ou das coisas que merecem um respeito religioso.
  • Ação, palavra ímpia: cometer, dizer impiedades.
  • Falta de respeito: impiedade de um filho.
  • [Figurado] Desumanidade; crueldade.

No livro de Êxodo, Deus adverte ao povo dizendo:

24. Não te inclinarás diante dos seus deuses, nem os servirás, nem farás conforme às suas obras; antes os destruirás totalmente, e quebrarás de todo as suas estátuas.
Êxodo 23:24

E nos versículos 32 e 33:

32. Não farás aliança alguma com eles, ou com os seus deuses.
33. Na tua terra não habitarão, para que não te façam pecar contra mim; se servires aos seus deuses, certamente isso será um laço para ti.

Êxodo 23:32,33

A conquista deveria ocorrer de maneira sistemática. Israel tinha permissão para tratar com as nações vizinhas à Canaã, mas era-lhes expressamente proibida tratar com os cananeus, tamanha a impiedade daquele povo. O livro de Deuteronômio diz:

10. Quando te achegares a alguma cidade para combatê-la, apregoar-lhe-ás a paz.
11. E será que, se te responder em paz, e te abrir as portas, todo o povo que se achar nela te será tributário e te servirá.
12. Porém, se ela não fizer paz contigo, mas antes te fizer guerra, então a sitiarás.
13. E o Senhor teu Deus a dará na tua mão; e todo o homem que houver nela passarás ao fio da espada.
14. Porém, as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o Senhor teu Deus.
15. Assim farás a todas as cidades que estiverem mui longe de ti, que não forem das cidades destas nações.

Deuteronômio 20:10-15

No versículo 15, ao referir-se a “estas nações”, Deus estava referindo-se a Canaã.

Revelado a impiedade e a abominação dos cananeus, haveria comprovação arqueológica e científica para endossar o relato teológico? Certamente sim. Conforme citado acima, muitas das informações foram extraídas dos achados arqueológicos encontrados em Gezer e Ras Shamra.

Gezer era uma antiga cidade cananeia reconstruída por Salomão cerca de 3.000 anos atrás. O site cafetorah.com diz:

“Além destes achados, foi muito importante a descoberta da cidade israelita e do Portal de Salomão, uma porta da cidade que teria sido construída pelo Rei Salomão há nada menos que 3000 anos atrás, muito semelhante aos que ele construiu nas cidades de Megido e de Hatzor na Galileia”.

“Tel Gezer também aparece em correspondências egípcias no período cananeu, quando ela esteve associada ao império egípcio antigo”.

“Além destas descobertas bíblicas surpreendentes, foram achadas em Tel Gezer 10 monolíticos cuja função até hoje não foi descoberta ao certo. Muitas teorias foram levantadas, mas parece que entre as mais dominantes é de que o local se trata de um altar onde a população dos cananeus costumava confirmar seus pactos com as cidades estados que a cercavam”.

“Reshef era um deus central no panteão cananeu, ‘era’ - entre outras coisas - responsável por doenças, pragas e incêndios. No selo, ele está atirando uma flecha de um grande arco contra cerca de dez rivais retratados em estados de submissão e queda”.

“O Culto de Reshef era comum no Novo Reino daquele período do Egito, diz Ornã - e o selo do cilindro de Gezer mostra influência egípcia clara. A representação em miniatura do deus é feita, ou inspirada, no estilo dos relevos egípcios que mostram os triunfos dos faraós”.



Ras Shamra é a atual cidade síria onde foi encontrada as ruínas da antiga Ugarit.  

“A religião ugarítica estava centrada no deus-chefe, Ilu ou El, o "pai da humanidade", "criador da criação". A corte de El ou Ilu era chamada de 'lhm ou Elohim, (deuses). Os mais importantes entre os principais deuses eram Hadade, o rei dos Céus, Atirate ou Asserá (familiar aos leitores da Bíblia), Yam (ou "Mar", o deus do caos primordial, das tempestades e da destruição em massa) e Mot ("morte"). Outros deuses venerados em Ugarite eram Dagom ("grão"), Tirosh, Horon, Reshef ("cura"), o artesão Kothar-wa-Khasis ("hábil e esperto"), Shahar ("amanhecer") e Shalim ("anoitecer"). Os textos ugaríticos forneceram aos acadêmicos uma riqueza de informações sobre a religião dos canaanitas, e suas ligações com a religião dos antigos israelitas”.
Fonte: Gregorio Del Olmo Lete, Canaanite Religion: According to the Liturgical Texts of Ugarit, 2004.



O doutor Rodrigo Silva põe em questão a decisão de Deus em exterminar os cananeus. Defendendo a decisão divina, ele argumenta que nem todas as culturas devem ser respeitadas, e compara a cultura cananeia dizendo:  

“É um grave erro imaginar que todas as culturas indistintamente devam ser respeitadas ou preservadas, ou que todas elas gozam do direito civil de existir sem transmitir qualquer problema para a geração futura. O que você acha dos que insistem em perpetuar o nazismo ou os costumes tribais de canibalismo e encolhimento de cabeças? Será que estas culturas, que certamente deveriam ser extintas, servem para o bem da humanidade? Será que elas deveriam ser preservadas?”.


A seguir uma descrição de três deuses canaanitas, algumas referências bíblicas e sua influência sobre a sociedade. Descrição extraída da página familiasemcristo.com.br:

BAAL: O supremo deus dos cananeus, correspondendo a Bei, Senhor, dos babilônios. O título por extenso, do Baal cananeu, era Baal-Semaim, isto é senhor do céu. Baalins (Jz 2:11) é a forma plural; cada lugar tinha seu próprio Baal”.

"Assim havia Baal-Hazor, Baal-Hermom, Baal-Peor, etc. Baal era o deus do sol, responsável pela germinação e crescimento da lavoura, o aumento dos rebanhos e a fecundidade das famílias. Em tempos de seca e de peste, sacrificavam-lhe vítimas humanas para apaziguar a sua ira, 2 Rs 16:3; 21:6; Jr 19:5". 

"Nestes holocaustos, a família geralmente oferecia o primogênito, a vítima sendo queimada viva".
 

"MOLOQUE: a divindade nacional dos amonitas. Também chamava-se Milcom e Melcã, conforme se vê em 1 Rs 11:5 e Jr 49:3. Moloque era adorado com sacrifícios humanos e prova de fogo".

“O rei Acaz queimou a seus filhos no fogo, 2 Cr 28:3, e o rei Manassés ofereceu o seu próprio filho em sacrifício a Moloque, 2 Rs 21:6. Esse é o deus da crueldade e do sadismo”.


"MAMOM: esta é uma palavra aramaica que se traduz por riqueza".

"Ela aparece em Mt 6:24 e Lc 16:13, nas palavras de Jesus: 'Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de se aborrecer de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará a outro".



Deixo abaixo dois links de blogues pessoais, com explicação mais detalhada e objetiva (sua leitura é fundamental para quem deseja aprender mais sobre o assunto):



Concluindo, após aprender sobre a sanguinária e abominável cultura canaanita, fica claro por que Deus preferiu desocupar, expulsar ou mesmo exterminar a nação inteira dos cananeus.


Continua na Parte 6






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