sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

O Que é o Maná?

 

O Que é o Maná?

 

No capítulo 16 do livro de Êxodo diz:

 

1. E partindo de Elim, toda a congregação dos filhos de Israel veio ao deserto de Sim, que está entre Elim e Sinai, aos quinze dias do mês segundo, depois de sua saída da terra do Egito.

 

Abaixo uma foto do deserto de Zim, localizado na Península do Sinai:


 

O livro de Êxodo nos relata como o povo de Israel murmurou contra Moisés e Arão, pedindo por comida (v. 2 e 3). Deus preparou a providência, prometendo alimentar-lhes com pão pela manhã e codornizes à tarde (v. 4 a 13).

 

É importante ressaltar que foi durante este evento que apareceu a glória do Senhor em uma nuvem. A nuvem era a glória do Senhor no tabernáculo (Ex 40:34-38), além de lhes fazer sombra contra o sol forte durante o dia e, à noite, aquece-los transformando-se em uma coluna de fogo (Nm 9.15-23).

 

10. E aconteceu que, quando falou Arão a toda a congregação dos filhos de Israel, e eles se viraram para o deserto, eis que a glória do Senhor apareceu na nuvem.



No versículo 14 há a primeira definição do Maná, comparando-o a escamas finas como a geada – provavelmente o orvalho – sobre a terra. Algumas traduções o retratam como escamas e outras como algo redondo. A seguir:

 

14 .E quando o orvalho se levantou, eis que sobre a face do deserto estava uma coisa miúda, redonda, miúda como a geada sobre a terra.

 

E então vem a parte mais interessante. Os israelitas não sabiam o que era aquilo e perguntavam a si mesmos “O que é isto?”.

 

15. E, vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? Porque não sabiam o que era. Disse-lhes pois Moisés: Este é o pão que o Senhor vos deu para comer.

 

Avançando para o versículo 31, a Bíblia dá mais detalhes quanto a aparência do Maná.

 

31. E chamou a casa de Israel o seu nome maná; e era como semente de coentro branco, e o seu sabor como bolos de mel.

 

Abaixo, fotos da semente e da planta de coentro:



 

A Bíblia de Estudo Plenitude nos dá algumas complementações quanto a natureza do Maná. Ela diz:

 

“Maná é o nome hebraico dado pelos israelitas e significa ‘Que é isto?’. Coentro é uma erva que pode alcançar até 1 (um) metro de altura. A planta produz sementes que até hoje são usadas como tempero”.

 

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 16.31, pág.: 81.

 

No versículo 21 é informado mais um aspecto do Maná. Ali diz:

 

21. Eles, pois, o colhiam cada manhã, cada um conforme ao que podia comer; porque, aquecendo o sol, derretia-se.

Esta é uma evidência de que o Maná era como uma “escama de geada”, pois se derretia como o gelo, como diz o próprio versículo 14.

 

Outro aspecto importante era sua deterioração. Ao israelitas foi ordenado comer somente no mesmo dia, proibindo-lhes de guarda-lo para o dia seguinte. Quem assim o fizesse, encontrava o Maná apodrecido e cheio de bichos.

 

19. E disse-lhes Moisés: Ninguém deixe dele para amanhã.
20. Eles, porém, não deram ouvidos a Moisés, antes alguns deles deixaram dele para o dia seguinte; e criou bichos, e cheirava mal; por isso indignou-se Moisés contra eles.

 

A única exceção em que era permitido armazena-lo era no sexto dia, ou seja, o dia que precede o sábado.

 

23. E ele disse-lhes: Isto é o que o Senhor tem dito: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, guardai para vós até amanhã.

24. E guardaram-no até o dia seguinte, como Moisés tinha ordenado; e não cheirou mal nem nele houve algum bicho.
25. Então disse Moisés: Comei-o hoje, porquanto hoje é o sábado do Senhor; hoje não o achareis no campo.
26. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá.
27. E aconteceu ao sétimo dia, que alguns do povo saíram para colher, mas não o acharam.

 

A Bíblia de Estudo Plenitude complementa as passagens, dizendo:

 

“O suprimento de comida vem de manhã após manhã no tempo de Deus, conforme o seu plano. O suprimento não pode ser armazenado para uso posterior, exceto para o sábado. Deve ser usado apenas como Deus havia especificado (v.20), uma demonstração miraculosa de sua provisão para suprir as necessidades de seu povo. Cada família tem tudo o que necessita. Elas podem ter um gômer do pão (v.15) por dia – uma tigela contendo cerca de 2 (dois) litros (v.16). Essa substância foi a comida principal de Israel por 40 anos (v.35). A petição na Oração do Senhor: “o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia” (Lc 11.3) provavelmente recorde o pão providenciado por Deus para os israelitas como seu sustento diário”.

 

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 16.13-18, pág.: 80.

 

Desta forma, fica esclarecido que o Maná era uma “escama” branca, semelhante à semente de coentro, deteriorável e com sabor de mel.

 

 

Para complementar o estudo bíblico, Deus estabelece que cada família deveria coletar um gômer de Maná por pessoa (v. 16). Gômer é uma medida de volume que corresponde a aproximadamente 2 (dois) litros. A Bíblia também esclarece que gômer é a décima parte de um efa (v.36).

 

O site canalmetrologia.com.br define precisamente tais medidas. Ele diz:

 

Gômer:

 

Depois de orar, maná foi enviado dos céus para alimentar o povo e assim foi recomendado que cada israelita recolhesse apenas a quantidade referente a um gômer por pessoa a cada manhã, onde um gômer era a medida referente a 1,76 litros.

 

Efa:

 

O efa foi a unidade padrão de volume de sólidos para o antigo povo de Israel, ele equivalia a 17,62 litros e aparece na bíblia quando o povo é aconselhado a usar instrumentos justos, ou seja, bem calibrados para que nenhuma vantagem fosse obtida em qualquer transação.

 

Fonte: https://canalmetrologia.com.br/unidades-de-medida-da-biblia-parte-2/

 


Há um debate quanto ao idioma hebraico nesta passagem. No idioma original, “Que é isto?” pode ser traduzido por מָן הוּא , ou “man hu?”.  

 

“Man hu” pode significar tanto “que é isto” quanto “quem é ele”. O idioma hebraico é composto de palavras de múltiplas definições. Em alguns casos, o verbo מָן “man“ também pode significar “provação”.

 

Fonte: https://rudecruz.com/exodo/o-que-e-mana/

 

A Prof. Karla Damasceno faz uma relação entre o Maná e o próprio Jesus Cristo, como consta no vídeo a seguir:

 

 

Lembrando que o Maná alimentou os israelitas por 40 anos no deserto (v. 35), a professora o relaciona com Jesus Cristo que, indo ao deserto, alimentou o povo com a multiplicação de pães (Mc 6.41) e, anteriormente, jejuou durante 40 dias e 40 noites (Mt 4.1-2).  

 

No livro de Deuteronômio diz:

 

3. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem.

 

Deuteronômio 8:3

 

Tal citação é reafirmada por Cristo que, ao ser tentado pelo diabo, diz:

 

4. Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

 

Mateus 4:4

 

Jesus testifica de si mesmo, afirmando ser Ele o pão da vida. Ele se faz superior ao Maná, pois afirma que quem dele comer viverá para sempre.

 

48. Eu sou o pão da vida.
49. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram.
50. Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
51. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.

 

João 6:48-51

A Bíblia de Estudo Plenitude diz:

 

“O Maná alimentou o povo e deu vida por 40 anos. Como tal, era um tipo de Cristo. Uma correlação direta pode ser vista toda vez que a Eucaristia é observada e o oficiante repete as palavras de Cristo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós” (1Co 11-24)

 

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 16.35, pág.: 81

 

Com estes argumentos, a professora faz uma brilhante revelação sobre a relação do “o que é isso” com “quem é ele”. Ou seja, o Maná.


 

Resumindo, pode-se dizer que o Maná é:

 

1.       Uma coisa miúda, semelhante a escamas, miúda como a geada sobre a terra (Ex 16:14);

2.       Semelhante à semente de coentro, branco e com sabor de mel (Ex 16:31);

3.       A palavra que sai da boca de Deus (Dt 8.3 e Mt 4.4);

4.       Jesus Cristo, ou seja, o pão da vida e o pão vivo que desceu do céu (Jo 6:48-51 e 1Co 11-24).

 

Espero que este pequeno estudo auxilie o leitor no fortalecimento de sua fé e na busca sincera pela Verdade.

 

Deus abençoe a todos.

 

 

 

- Eduardo Redux

 

 

domingo, 14 de julho de 2019

As Mulheres na Bíblia - Parte 9 - Isabel




Isabel, mulher justa e irrepreensível perante Deus. Quem foi esta mulher incrível e como ela se tornou mãe de um dos maiores homens da Bíblia?

Antes do estudo, segue o significado deste belo nome:

Isabel: Significa “pura", "casta", "aquela que cumpre promessas".

O nome Isabel espalhou-se por toda a Espanha, Portugal e França, tornando-se comum entre a realeza até o século XII.
Tornou-se popular na Inglaterra no século XIII depois que Isabella de Angoulême (1187-1246) se casou com o rei inglês John, e foi posteriormente reforçada quando Isabella da França (1295-1358) se casou com Eduardo II no século seguinte.
O nome foi carregado também por duas rainhas espanholas, incluindo Isabel de Castela (1451-1504), que patrocinou as explorações do navegador Cristóvão Colombo.
Isabel é a forma usual do nome Elizabeth na Espanha e em Portugal.


A história de Isabel é contada no Evangelho de Lucas. Seria impossível contar sua história sem mencionar seu marido, o sacerdote Zacarias, pois ambos tiveram papéis importantíssimos antes da vinda do Messias. No Evangelho diz:

5. Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel.
6. E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
7. E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos eram avançados em idade.


Lucas 1:5-7

Semelhante à Sara, mulher de Abraão, Isabel era idosa e estéril, mas sua situação iria milagrosamente mudar graças a uma revelação feita a seu marido.

8. E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma,
9. Segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso.
10. E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso.


Lucas 1:8-10

Aqui é importante ressaltar um detalhe teológico. Deus queria falar com Zacarias. A Bíblia de Estudo Plenitude nos elucida esta passagem, dizendo:

“Cada turma de sacerdotes servia no templo durante uma semana, duas vezes por ano. Os deveres sacerdotais eram designados por sorte. Um sacerdote poderia ter o privilégio de queimar incenso no Lugar Santíssimo apenas uma vez durante sua vida e, algumas vezes, nunca”.

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 1.8-9, pág. 1028.
  
Diz a Palavra que o arcanjo Gabriel apareceu pessoalmente a Zacarias e lhe fez revelações incríveis sobre seu futuro filho, João. Talvez a parte mais impressionante, pelo menos particularmente, tenha sido a passagem a seguir:

17. E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.

Lucas 1:17

Neste versículo Gabriel revela que seu filho viria no mesmo espírito operado em Elias, e consequentemente Eliseu (2 Reis 2:9-14). Que tremenda honra conferida ao sacerdote Zacarias!


Após a revelação, o arcanjo emudeceu Zacarias até que suas palavras se cumprissem. Então, como esperado, o milagre começou a se realizar.

24. E, depois daqueles dias, Isabel, sua mulher, concebeu, e por cinco meses se ocultou, dizendo:
25. Assim me fez o Senhor, nos dias em que atentou em mim, para destruir o meu opróbrio entre os homens.


Lucas 1:24,25

No versículo 36 Gabriel revela que Isabel era prima de Maria, mãe de Jesus. Portanto, João era seis meses mais velho que Jesus cronologicamente.

36. E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril;

Lucas 1:36

Diferente de João, que viria no espírito de Elias, o filho de Maria viria – e seria – o próprio Espírito Santo de Deus encarnado entres os homens.

30. Eu e o Pai somos um.

João 10:30

Ao ser visitado por Maria, o filho nascituro de Isabel pula em seu ventre e ela se enche do Espírito Santo, exclamando:

42. E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre.
43. E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?
44. Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.
45. Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.

Lucas 1:42-45

Ao ouvi-la, Maria agradece ao Senhor pelo imensurável e incomparável privilégio de gerar o Redentor de toda a humanidade (Lc 46:56).

A seguir, Lucas narra o nascimento de João:

57. E completou-se para Isabel o tempo de dar à luz, e teve um filho.
58. E os seus vizinhos e parentes ouviram que tinha Deus usado para com ela de grande misericórdia, e alegraram-se com ela.
59. E aconteceu que, ao oitavo dia, vieram circuncidar o menino, e lhe chamavam Zacarias, o nome de seu pai.


Lucas 1:57-59


Neste momento, houve um pequeno desconforto na circuncisão de seu filho. O povo pretendia nomear o filho de Isabel com o nome de seu pai, Zacarias. A Bíblia de Estudo complementa o caso:

“Bebês do sexo masculino recebiam nome no oitavo dia, quando eram circuncidados. Normalmente, a criança receberia o mesmo nome do pai”.

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 1.59, pág. 1030.

Entretanto, Isabel protesta, causando dúvida e desentendimento:

60. De modo nenhum! Respondeu sua mãe. Pelo contrário, ele deve ser chamado João.
61. E disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela que se chame por este nome.
62. E perguntaram por acenos ao pai como queria que lhe chamassem.


Lucas 1:60-62

Ao recorrerem ao pai, Zacarias corrobora a decisão de sua esposa. Nisto, a proibição de Gabriel é suspensa e Zacarias passa a falar novamente.

63. E, pedindo ele uma tabuinha de escrever, escreveu, dizendo: O seu nome é João. E todos se maravilharam.
64. E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e falava, louvando a Deus.
65. E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas as montanhas da Judéia foram divulgadas todas estas coisas.
66. E todos os que as ouviam as conservavam em seus corações, dizendo: Quem será, pois, este menino? E a mão do Senhor estava com ele.


Lucas 1:63-66

Hoje sabemos quem é o menino. Este era João Batista, o cumprimento da profecia revelada por Malaquias 300 anos antes:

5. Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor;
6. E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição.

Malaquias 4:5,6


Esta maravilhosa história termina com o cântico de Zacarias, também conhecido como o Benedictus (leitura opcional).

67. E Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo, e profetizou, dizendo:
68. Bendito o Senhor Deus de Israel, Porque visitou e remiu o seu povo,
69. E nos levantou uma salvação poderosa Na casa de Davi seu servo.
70. Como falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio do mundo;
71. Para nos livrar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam;
72. Para manifestar misericórdia a nossos pais, E lembrar-se da sua santa aliança,
73. E do juramento que jurou a Abraão nosso pai,
74. De conceder-nos que, Libertados da mão de nossos inimigos, o serviríamos sem temor,
75. Em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa vida.
76. E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, Porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos;
77. Para dar ao seu povo conhecimento da salvação, Na remissão dos seus pecados;
78. Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou;
79. Para iluminar aos que estão assentados em trevas e na sombra da morte; A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.


Lucas 1:67-79

Após este maravilhoso acontecimento, o filho de Isabel cresce em reclusão, vivendo nos desertos da Judéia.

80. E o menino crescia, e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel.

Lucas 1:80

Concluindo, com a história de Isabel podemos constatar alguns pontos, a seguir:

·         A obediência à Palavra no casamento trará bênçãos (Lc 1:6);
·         Não importa a situação, Deus operará o milagre (Lc 1:13);
·         Nunca devemos desobedecer à Deus (Lc 1:60);
·         O que Deus nos reserva é muito maior do que imaginamos (Lc 1:76-77).

Nos esforcemos para seguir o exemplo de Isabel e Zacarias então, para que o Senhor Deus nos abençoe com seu poder e infinito amor!


- Eduardo Redux




quarta-feira, 17 de outubro de 2018

A Aflição de Pilatos



Pilatos; como este governador do – uma vez – glorioso império romano procedeu diante da condenação do Unigênito Filho de Deus? Será que, afastando as ideias preconcebidas de “gentio”, “ímpio” e “idólatra”, é justo rotula-lo como um tirano estrangeiro que friamente condenou o nosso Salvador?

As referências a este admirável homem encontram-se nos três evangelhos sinóticos, mas citarei aqui também o evangelho canônico de João.

Após ser preso, julgado, espancado e até cuspido pelos fariseus, Jesus finalmente se encontra com Pôncio Pilatos, o conhecido governador romano. Perante o governador, Jesus é acusado e caluniado pelos sacerdotes, que diziam:

2. "Encontramos este homem subvertendo a nossa nação. Ele proíbe o pagamento de imposto a César e se declara ele próprio o Cristo, um rei".

Lucas 23:2

Então Pilatos, lhe pergunta:

3. "Você é o rei dos judeus?" E ele, respondendo, disse-lhe: "Tu o dizes".

Lucas 23:3

A Bíblia de Estudo Plenitude nos elucida por qual razão Pilatos lhe faz esta pergunta.

“A acusação de blasfêmia feita pelo Sinédrio (um tribunal composto de anciões e sacerdotes judeus) seria insignificante para Pilatos. Portanto, eles acusaram Jesus de rebelião por sustentar ser um rei”.

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 27:11, pág. 995.

Mas no Evangelho de João há mais detalhes do interrogatório entre Jesus e Pilatos. Conforme é possível se deduzir, Jesus ficou em silêncio diante das acusações dos fariseus, mas não em seu diálogo com o governador. Em João 18:33-38 diz:

33. Pilatos então voltou para o Pretório, chamou Jesus e lhe perguntou: "Você é o rei dos judeus? "
34. Perguntou-lhe Jesus: "Essa pergunta é tua, ou outros te falaram a meu respeito? "

Aqui é interessante observar que mesmo Jesus se admira com a pergunta de Pilatos. A suprema declaração de rei não é dada pelos judeus ao Senhor Jesus, mas por um gentio romano que, talvez inconscientemente, sabia de quem se tratava. 

35. Respondeu Pilatos: "Acaso sou judeu? Foram o seu povo e os chefes dos sacerdotes que entregaram você a mim. Que é que você fez? "
36. Disse Jesus: "O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui".

Jesus testifica de si mesmo, o que deixa Pilatos muito empolgado.

37. "Então, você é rei! ", disse Pilatos. Jesus respondeu: "Tu dizes que sou rei. De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem".

Desconhecedor e inculto da insondável sabedoria divina, o governador não reconhece a teologia à respeito da natureza do Senhor.

38. "Que é a verdade? ", perguntou Pilatos. Ele disse isso e saiu novamente para onde estavam os judeus e disse: "Não acho nele motivo algum de acusação.

João 18:33-38 

Os fariseus o acusavam incansavelmente, porém Jesus permanecia em silêncio. Intrigado, Pilatos o pergunta:

13. "Você não ouve a acusação que eles estão fazendo contra você? "
14. Mas Jesus não lhe respondeu nenhuma palavra, de modo que o governador ficou muito impressionado.


Mateus 27:13,14


Então Jesus é enviado ao rei Herodes, monarca da Galileia, mas este o despreza, pois esperava ver de Jesus algum milagre e novamente ele permanece o tempo todo em silêncio. Retornando ao governador, este convoca as autoridades judaicas e lhes diz:

14. "Vocês me trouxeram este homem como alguém que estava incitando o povo à rebelião. Eu o examinei na presença de vocês e não achei nenhuma base para as acusações que fazem contra ele.
15. Nem Herodes, pois ele o mandou de volta para nós. Como podem ver, ele nada fez que mereça a morte.
16. Portanto, eu o castigarei e depois o soltarei.


Lucas 23:14-16

Durante a festa da Páscoa, havia o costume de soltar um dos presos que o povo escolhesse. Havia outro homem, de nome Barrabás, que havia sido preso por iniciar uma rebelião contra o império e matar um homem. Em uma manobra sensata e compassiva, Pilatos tenta libertar a Jesus.

17. Pilatos perguntou à multidão que ali se havia reunido: "Qual destes vocês querem que lhes solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo? "
18. Porque sabia que o haviam entregado por inveja.


Mateus 27:17,18

Mas a multidão, incitada pelos fariseus, em uníssono grita:

18. "Acaba com ele! Solta-nos Barrabás! "

Lucas 23:18

Durante aquele espetáculo grotesco de coerção e injustiça, Pilatos bravamente resiste.

21. Mas eles continuaram gritando: "Crucifica-o! Crucifica-o! "
22. Pela terceira vez ele lhes falou: "Por quê? Que crime este homem cometeu? Não encontrei nele nada digno de morte. Vou mandar castigá-lo e depois o soltarei".

Lucas 23:21-22

Aqui é necessário observar como Pilatos, um homem gentio e pagão, se comportou diante do julgamento de Cristo. Ele demonstra misericórdia e equidade perante todos mas, rechaçado pelo próprio povo do acusado, é friamente entregue à morte.

E isto lhe causa profunda aflição.

A Bíblia relata um fato pouco conhecido no imaginário popular. Mesmo a esposa de Pilatos se envolveu, como fica claro a seguir:

19. Estando Pilatos sentado no tribunal, sua mulher lhe enviou esta mensagem: "Não se envolva com este justo, porque hoje, em sonho, sofri muito por causa dele".

Mateus 27:19

Portanto, não apenas o governador e o código penal romano viam a Jesus como inocente, mas sua esposa em sonhos também.

Pilatos insiste:

21. Então perguntou o governador: "Qual dos dois vocês querem que eu lhes solte? " Responderam eles: "Barrabás! "
22. Perguntou Pilatos: "Que farei então com Jesus, chamado Cristo? " Todos responderam: "Crucifica-o! "
23. "Por quê? Que crime ele cometeu? ", perguntou Pilatos. Mas eles gritavam ainda mais: "Crucifica-o! "


Mateus 27:21-23

Nesta passagem, a aflição de Pilatos chega ao clímax. Sem opções diante do povo, ele faz um ato que ficaria icônico ao seu respeito. Pilatos lava suas mãos.

24. Quando Pilatos percebeu que não estava obtendo nenhum resultado, mas, pelo contrário, estava se iniciando um tumulto, mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão e disse: "Estou inocente do sangue deste homem; a responsabilidade é de vocês".

Mateus 27:24

E o povo responde algo insano que seria eternamente lembrado nas gerações vindouras:

25. "Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos! "

Mateus 27:25


Pilatos então acata ao pedido do povo, entregando-os Jesus.

15. Desejando agradar a multidão, Pilatos soltou-lhes Barrabás, mandou açoitar Jesus e o entregou para ser crucificado.

Marcos 15:15

Em algumas traduções diz “agradar”, outras “satisfazer” o povo, mas pessoalmente creio que Pilatos quis evitar um tumulto. Em situações delicadas assim, geralmente resultavam em insurreições que, para o império, custariam seu governo e sua vida.

Jesus então é agredido e humilhado pelos soldados, mas ainda outra vez Pilatos se apresenta diante do povo em sua defesa.

4. Mais uma vez, Pilatos saiu e disse aos judeus: "Vejam, eu o estou trazendo a vocês, para que saibam que não acho nele motivo algum de acusação".
5. Quando Jesus veio para fora, usando a coroa de espinhos e a capa de púrpura, disse-lhes Pilatos: "Eis o homem! "

A Bíblia de Estudo Plenitude descreve esta curiosa expressão.

“A expressão Eis o homem não tinha o significado de um título de honra, mas era uma mistura de piedade e desdém. Pilatos encarava as exigências de Jesus mais como apropriadas para o ridículo do que para a ação legal séria”.

Fonte: B.E.P., nota 19.5, pág. 1102.

O governador relutava-se em ter qualquer envolvimento com esta morte, mas a cada tentativa os cínicos fariseus o instigavam mais e mais.

6. Ao vê-lo, os chefes dos sacerdotes e os guardas gritaram: "Crucifica-o! Crucifica-o! " Mas Pilatos respondeu: "Levem-no vocês e crucifiquem-no. Quanto a mim, não encontro base para acusá-lo".
7. Os judeus insistiram: "Temos uma lei e, de acordo com essa lei, ele deve morrer, porque se declarou Filho de Deus".

Os romanos tinham uma política de tolerância religiosa sobre os povos conquistados, e os fariseus tentam usar desta tolerância e sua lei como pretextos para matarem a Jesus. Se Pilatos não acatasse, estaria desrespeitando a religião do povo e colocando o governo à beira de uma insurreição.

8. Ao ouvir isso, Pilatos ficou ainda mais amedrontado
9. e voltou para dentro do palácio. Então perguntou a Jesus: "De onde você vem? ", mas Jesus não lhe deu resposta.
10. "Você se nega a falar comigo? ", disse Pilatos. "Não sabe que eu tenho autoridade para libertá-lo e para crucificá-lo? "

A aflição de Pilatos apenas aumentava com o silêncio de Cristo, mas este finalmente o responde de um jeito que, aos meus olhos, parece haver insolência de sua parte.

11. "Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima. Por isso, aquele que me entregou a ti é culpado de um pecado maior".


Não consigo entender o porquê, mas desde então Pilatos demonstrou tremenda compaixão para com o acusado.

12. Daí em diante Pilatos procurou libertar Jesus, mas os judeus gritavam: "Se deixares esse homem livre, não és amigo de César. Quem se diz rei opõe-se a César".

Desta vez os fariseus usam outra tática cínica: jogar o governador contra o próprio império. Neste momento os fariseus insistiam que eles não tinham reis, nem mesmo os seus próprios, além de César, o título romano para os imperadores daquele tempo.

Mas, cedendo ao povo, Jesus é finalmente condenado e crucificado.

Mais uma vez Pilatos faz algo que muito me fascina: ele testifica que Jesus era o rei do judeus não mais oralmente, mas por escrito.

18. Ali o crucificaram, e com ele dois outros, um de cada lado de Jesus.
19. Pilatos mandou preparar uma placa e pregá-la na cruz, com a seguinte inscrição: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.


Talvez o governador estivesse sendo irônico, se vingando do povo que o trouxe tamanho desconforto. Evidentemente os judeus detestaram o escrito.

21. Os chefes dos sacerdotes dos judeus protestaram junto a Pilatos: "Não escrevas ‘O Rei dos Judeus’, mas sim que esse homem se dizia rei dos judeus".

Mas, desafiador e triunfante, Pilatos responde:

22. "O que escrevi, escrevi".

João 19:4-22


Encerrando este texto, exponho aqui minhas considerações. A aflição de Pilatos de maneira alguma é uma apologia à inocência do governador – eu não me atreveria a tanto –, mas demonstra que mesmo um gentio, ímpio e idólatra foi capaz de reconhecer a inocência e a virtude de Cristo, das quais não foram reconhecidas nem pelos judeus.

Pilatos, em seu desprezo por este povo bárbaro e incivilizado, e despreocupado com suas primitivas crenças religiosas, a princípio não se importou com o julgamento de Cristo mas, diante das mais falsas e absurdas acusações ao seu respeito, defendeu-o, arriscando bravamente seu cargo e sua vida.     

Hoje a História o acusa de várias coisas: neutralidade covarde, tirânico e arrogante, executor da morte de Cristo... Mas poucos reconhecem seu esforço formidável para salvar a vida do nosso Senhor. Além disso, Pilatos – não sendo um judeu, mas um gentio – reconheceu a majestade divina do Filho, como o centurião também o reconheceu antes dele (Mt 8:5-13).

Não tenho ódio por Pilatos, mas respeito, por que ele declarou a majestade divina de Cristo, impressionando inclusive a Jesus (Jo 18:33-34). E ele era um gentio, como eu e você. Não tenho certeza da salvação de sua alma, mas testemunhos como o de Pilatos me fazem ter certeza daquela famosa passagem bíblica, que diz:

11. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.
12. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus (...).


João 1:11,12



- Eduardo Redux




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