Certo dia, enquanto dirigia em uma bela tarde de sol, tive um pensamento
sobre a energia, as leis da física e a matéria. Nisto, eu acabei por pensar nas
leis físicas do universo.
Isaac Newton, em seu livro Principia,
deduziu as três leis fundamentais da física, das quais revolucionaram para
sempre a ciência no mundo. Estas leis são:
- Lei da Inércia; tendência que os corpos possuem em permanecer em seu estado natural de repouso ou em movimento retilíneo e uniforme.
- Lei da Força Resultante; também conhecida como Princípio Fundamental da Dinâmica, uma vez que é a partir dela que se define a força como uma grandeza necessária para se vencer a inércia de um corpo.
- Lei de Ação e Reação; descreve o resultado da interação entre duas forças, pois para toda ação (força) sobre um objeto existirá uma reação (força) de mesmo valor e direção, mas com sentido oposto.
(Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/fisica)
Considerando que nosso universo 4D (latitude, longitude, profundidade e
tempo) seja composto pelos elementos da tabela periódica, que quanto maior a
massa, maior a gravidade, e que a gravitação em si seja uma forma de energia,
deduz-se que, em relação a este planeta, a aplicação destas leis seja idêntica.
Observei que a massa (matéria), de acordo com Newton, tende a ficar em
repouso (inércia). Apesar da massa conter o potencial gravitacional e
energético, ainda assim seria necessária uma ação para fazê-la se mover. Neste
caso, para ocorrer tal ação, a força aplicada deveria ser o produto de sua
massa pela aceleração (segunda lei de Newton), o que acarretaria em uma reação,
onde entraríamos na terceira lei de Newton.
Se pensarmos bem, veremos que tudo no mundo está intimamente ligado a
essas três leis. Newton, ao deduzi-las, obviamente não as havia criado, mas com
grande reflexão e empenho pôde observar este fato tão evidente, porém tão
complexo de ser descrito.
A Energia, tão presente e evidente no universo, é um conceito
infinitamente superior a ser explicado, da qual a considero menos científica e
muito mais filosófica. “O que é Energia?” eu frequentemente me pergunto. E por
não poder ser explicada pela ciência e filosofia, acaba por cair (ou mesmo
voltar) ao campo do fideísmo, ou seja, a Religião.
Seriam o bem e o mal forças atuantes em uma humanidade inerte deficiente
de direção?
“As forças do bem e do mal, entidades e divindades, a influência dos
astros e o significado das estrelas e dos planetas...”. Voltando para o mundo
material (e, portanto, físico), o que a humanidade criou para se adequar,
explicar ou mesmo conter essas forças naturais e infinitamente superiores definidas
por Newton?
Em 1782 a.C foi criado o famoso Código de Hamurabi, uma compilação de 282
leis da antiga Babilônia (atual Iraque). Hamurabi, sendo o sexto rei da
Babilônia e fundador do primeiro império babilônico, tinha por intenção
promover a justiça e a estabilidade de seus domínios. De sua legislação, talvez
a mais conhecida foi a famosa Lei de Talião, sendo esse o ponto principal e
fundamental do código.
Lei de Talião (do latim Lex
Talionis) significa “como tal” e “idêntico”, baseando sua pena na
reciprocidade e proporcionalidade do crime sofrido. É frequentemente
simbolizado pela expressão “olho por olho, dente por dente”. Mesmo o termo
Talião deriva o atual “retaliação”, atribuído à vingança contra o ofensor. Mas,
diferente do que se pensa, a Lei de Talião foi criada para impedir as pessoas
de fazerem justiça com as próprias mãos, de maneira desproporcional à ofensa.
Para tanto, muitos delitos tinham sanção punitiva no talião, evitando-se assim
que as pessoas se vingassem. Seu fundamento era o “tal crime, tal pena” onde o
“taliter”, ou seja, talmente, recebia de maneira igual o dano causado ao outro.
(Fonte: http://www.infoescola.com/historia/codigo-de-hamurabi/)
Ora, há quase 4000 anos atrás os babilônicos já compreendiam o conceito
vingança e justiça, sendo, portanto, necessário a criação de um código (ou
legislação) que aplacasse o mal não julgado de perturbar a paz, desestabilizar
a ordem e consumir a sociedade. Ou seja, os babilônicos compreendiam que para
cada ação havia uma reação.
A Torá, ou Lei de Moisés, escrita de 1400 a 1300 a.C, porém tendo como
fundamento os mandamentos transmitidos por Deus desde o fim do dilúvio (Sheva
Mitzvot B'nai Noah ou Sete
Leis de Noé), contém claras semelhanças com a Lei de Talião. A seguir um quadro
comparativo:

(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_Hamurabi)
Outro exemplo:
Texto I: Artigos do Código
de Hamurabi
— Se um homem furar o olho de um homem livre, furar-se-lhe-á um olho.
— Se ele fura o olho de um escravo alheio ou quebra um membro ao escravo alheio, deverá pagar a metade do seu preço.
— Se um arquiteto constrói uma casa para alguém, porém não a faz sólida, resultando daí que a casa venha a ruir e matar o proprietário, este arquiteto é passível de morte.
— Se, ao desmoronar, ela mata o filho do proprietário, matar-se-á o filho deste arquiteto.
(AQUINO; FRANCO; LOPES, 1980, p. 114).
Texto II: Extratos da Lei Mosaica
— Se um homem der um soco no olho do seu escravo ou da sua serva, e, em consequência, eles perderem esse órgão, serão alforriados como compensação.
— Não se punirá o homicida antes de ouvidas as testemunhas. Ninguém será condenado pelo testemunho de um só.
— Aquele que ferir seu pai ou sua mãe será punido de morte.
— Aquele que ferir um dos seus concidadãos será tratado como o tratou: receberá fratura por fratura e perderá olho por olho, dente por dente.
(ARRUDA, 1981, p. 98).
— Se um homem furar o olho de um homem livre, furar-se-lhe-á um olho.
— Se ele fura o olho de um escravo alheio ou quebra um membro ao escravo alheio, deverá pagar a metade do seu preço.
— Se um arquiteto constrói uma casa para alguém, porém não a faz sólida, resultando daí que a casa venha a ruir e matar o proprietário, este arquiteto é passível de morte.
— Se, ao desmoronar, ela mata o filho do proprietário, matar-se-á o filho deste arquiteto.
(AQUINO; FRANCO; LOPES, 1980, p. 114).
Texto II: Extratos da Lei Mosaica
— Se um homem der um soco no olho do seu escravo ou da sua serva, e, em consequência, eles perderem esse órgão, serão alforriados como compensação.
— Não se punirá o homicida antes de ouvidas as testemunhas. Ninguém será condenado pelo testemunho de um só.
— Aquele que ferir seu pai ou sua mãe será punido de morte.
— Aquele que ferir um dos seus concidadãos será tratado como o tratou: receberá fratura por fratura e perderá olho por olho, dente por dente.
(ARRUDA, 1981, p. 98).
(Fonte: http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/lei-mosaica-codigo-hamurabi)
Em ambos os casos, paga-se o mal com o mal. Mas, avançando no tempo, esta
lei universal de causalidade ainda estaria presente no mundo moderno?
Em algumas gangues latinas da América Central e do Norte há um código de
gangue, uma tradição oral, da qual seus membros chamam de “sangue por sangue”.
Esse código, contraditoriamente sendo uma lei entre criminosos, consiste
basicamente na Lei de Talião, ou seja, se alguém matar o irmão de outro membro,
o irmão do primeiro deverá morrer. Se for o pai, então o pai do outro deverá
morrer, se for o primo, então o primo do outro deverá morrer, e assim
sucessivamente. Obviamente esse código abrange muitos outros círculos sociais,
além das barreiras raciais, geográficas e étnicas, mas o fato é que ele
continua sendo uma aplicação da lei universal, a lei de ação e reação.
Hitler, ao mobilizar o exército da Alemanha para invadir a União
Soviética, praticou uma ação,
trazendo o mal sobre si. Incapazes de resistir ao avanço alemão, por muito
tempo os russos não puderam conter esse mal, até que, em determinado momento,
tudo mudou. Impedidos de continuar devido ao clima, à logística e outros
fatores, os alemães foram contidos no Rio Volga, tendo seus ataques resistidos
bravamente. E foi então que os russos contra-atacaram, ou seja, praticaram uma reação. Com a Operação Urano eles
cercaram a Wehrmacht, tomaram a ofensiva do front oriental e repeliram os
invasores, empurrando-os de volta à Alemanha.
O mal teve resposta, a ação foi recebida com uma reação. Mas, alcançado o
objetivo e consumada a sua vingança (sendo este o maior estupro em massa
ocorrido na história), os russos, sob o comando do politburo soviético,
intentou prolongar este mal, desequilibrando o mal equalizado e novamente praticando-o,
desta vez pela própria Rússia. Eles intentavam invadir o ocidente europeu.
Entretanto, ao depararem-se com os exércitos aliados liderados pelos
Estados Unidos, tiveram seu ímpeto contido no centro da Europa. Este foi o
início do período de maior divisão no mundo moderno, conhecido como Guerra
Fria. E o que foi a Guerra Fria além da equalização de forças opostas e
conflitantes, porém equilibradas entre si?
Comparando-a com as leis de Newton, vemos a lei da inércia (União
Soviética em “repouso”), a lei de força resultante (Alemanha força uma invasão)
e a lei de ação e reação (União Soviética responde de maneira idêntica e em
igual intensidade). Segundo Newton, na física há a teoria de que, se as forças
opostas e conflitantes tiverem a mesma proporção, o corpo entrará em
equilíbrio. A resistência e oposição dos aliados em relação aos russos
exemplifica este equilíbrio.
Certa vez o filósofo Olavo de Carvalho disse que quando alguém o agride e
você não reage, automaticamente você está lhe dando permissão para agredi-lo novamente.
Ele não poderia estar mais certo. Se o agressor agredir e o agredido não fizer
nada, o mal causado seguirá livremente e mais forte, uma vez que não houve
resistência ou contenção. Desta forma o mal poderá ser repetido no agredido, ou
até mesmo estendido aos seus bens, seus amigos e até sua família. Quão terrível
é a consequência e o dano quando o mal age livremente! Ao permitir que o mal se
alastre livremente você está se eximindo do direito de existir.
Entretanto, quando praticamos o mal ele pode ser perdoado? É claro que
sim, porém haverá consequência.
O Rei Davi tomou a esposa de seu amigo Urias, Bate-Seba, e ambos praticaram
o adultério. A mulher engravidou e, para ocultar o ocorrido, o rei arquitetou a
morte de seu amigo, enviando-o para morrer na guerra. Ao ser descoberto através
de Deus pelo profeta Natã, Davi se arrependeu. Mesmo perdoado, o rei não saiu
ileso do adultério e teve o seu filho, o mesmo gerado por Bate-Seba, morto ao
passar de dias (1 Samuel 11 e 12). O mal foi praticado e, mesmo perdoado, não
saiu sem castigo. Ação e reação.
Em outras palavras, deste mundo não sairemos sem punição.
E quanto ao Novo Testamento, o que ele tem a dizer a respeito? Em Lucas
6:29 diz:
“Se alguém bater em
você numa face, ofereça-lhe também a outra. Se alguém tirar de você a capa, não
o impeça de tirar a túnica”.
Oferecendo a outra face, não estaríamos nós permitindo que o mal
avançasse e nos eximindo também do direito de existir? Em uma interpretação
pessoal, não. No Antigo Testamento vigorava a Lei de Moisés, aquela bem
parecida com a Lei de Talião, ou seja, quando o mal era praticado, ele era
julgado, divinamente ou não. Mas no Novo Testamento, com a morte e ressureição
de Cristo, cumpriu-se a profecia e se iniciou o tempo da Graça. Esta passagem
bíblica retrata que ao fazermos o bem, também receberemos o bem de volta. Não
apenas o mal é válido na lei de ação e reação. Diferente da lei mosaica, ao
perdoarmos e, assim, transferirmos nossas ofensas a Cristo, estaremos cumprindo
seu verdadeiro propósito de juiz e redentor da humanidade, nos justificando
perante o Pai. Em Mateus 5:6 diz:
“Bem-aventurados os que
têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”.
E em Romanos 12:19 a 21 diz:
Amados, nunca
procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: "Minha é
a vingança; eu retribuirei", diz o Senhor. Ao
contrário: "Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede,
dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas
sobre a cabeça dele". Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.
sobre a cabeça dele". Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.
No Budismo e Hinduísmo há a noção de Karma. Para eles, o carma é um termo
que significa ação. No budismo é
usado para as ações que venham de intenções ou obsessões mentais. Estas ações
trazem como consequência um fruto ou resultado, seja na vida presente ou em uma
vida futura. Carma é a consequência, a reação,
o impulsor do ciclo de renascimentos (saṃsāra)
para cada ser.
Dhammaniyama, ou lei de natureza
da causa e efeito, pressupõe que tudo no universo está sujeito a esta lei. Uma
ação, palavra ou pensamento é uma forma de criar uma causa. O efeito
corresponderá à causa praticada, sendo ela boa ou má. No canon Pali (língua
litúrgica utilizada na escola Teravada do budismo), Buda cita:
“Eu
sou o dono das minhas ações (kamma), herdeiro das minhas ações, nascido das
minhas ações, relacionado através das minhas ações e tenho as minhas ações como
árbitro. O que quer que eu faça, para o bem ou para o mal, disso me tornarei o
herdeiro”.
Desta forma, ao gerar o carma os seres ficam presos ao ciclo de
reencarnações (samsara).
A última meta da prática budista (e, portanto, hinduísta) é extinguir o carma,
desse modo libertando-se do ciclo de reencarnações.
Sendo bom ou mal, a intenção é gerada na mente e então consumada na ação,
transformando-se em carma. Pode-se atribui-lo também ao Kammaniyama, a lei do carma que
determina o bem-estar humano, estando diretamente relacionado ao comportamento
humano sob a perspectiva da ética.
(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carma_(budismo))
Traçando um paralelo entre Newton, o budismo, a história da humanidade e
a Bíblia, é possível chegar a uma conclusão de que o conceito de ação e reação
vai além do matemático, científico, físico e energético, é uma Lei Universal.
E, sendo universal, transcende totalmente as camadas da matéria e do espírito,
para um patamar mais alto do qual a humanidade ainda não tem domínio: o
metafísico.
- Eduardo Domingues