Ao assistir a um vídeo de um rapaz tocando sua bateria artesanal
construída com latas de aço, pratos metálicos e bumbos de baldes plásticos,
tive uma reflexão crítica sobre o que acabava de assistir.
O que é Cultura?
Separando as definições mais importantes, o site dicio.com diz:
- Conjunto dos hábitos sociais e religiosos, das manifestações intelectuais e artísticas, que caracteriza uma sociedade: cultura inca; a cultura helenística.
- Normas de comportamento, saberes, hábitos ou crenças que diferenciam um grupo do outro: provêm de culturas distintas.
- Expressão ou estágio evolutivo das tradições e valores de uma região, num período determinado: cultura católica.
- Aplicação do espírito a uma coisa: a cultura das ciências.
- Desenvolvimento das faculdades naturais: a cultura do espírito.
O site Michaelis.uol.com.br nos dá definições parecidas:
- Conjunto de conhecimentos, costumes, crenças, padrões de comportamento, adquiridos e transmitidos socialmente, que caracterizam um grupo social.
- Conjunto de conhecimentos adquiridos, como experiências e instrução, que levam ao desenvolvimento intelectual e ao aprimoramento espiritual; instrução, sabedoria.
- Requinte de hábitos e conduta, bem como apreciação crítica apurada.
Deste modo, analisei que a cultura está atrelada a seis fatores
determinantes:
- Raça;
- Etnia;
- Local de origem;
- Classe social;
- Intelecto;
- Educação.
Inicialmente as sociedades se formam pela Raça em comum. Supondo que
sejam duas raças ou mais, formam-se as Etnias, como a união das nativas
brasileiras com os bandeirantes portugueses. O Local de Origem é importante,
pois a vegetação, geografia e clima influenciam no desenvolvimento cultural do
povo. As Classes Sociais surgirão com o tempo, compondo a clássica relação
entre os senhores e seus subordinados. Intelecto é uma característica peculiar
de cada povo, uns terão mais facilidade na confecção de ferramentas e
alfabetização do que outros. Por último, a Educação será a capacidade de
transmitir e passar o conhecimento adquirido às gerações futuras.
Montando um paralelo com a Música, o artista pode (através da letra)
descrever a própria condição em que vive, narrando acontecimentos corriqueiros,
sua vida amorosa, dificuldades que enfrenta e reivindicações políticas. Desta
maneira, o artista estará transmitindo musicalmente sua cultura.
Se analisarmos do que falam as músicas do samba por exemplo,
encontraremos diversas descrições do cotidiano popular, sobretudo da raça
negra. O forró descreve sobretudo os bailes nordestinos; o sertanejo a vida de
peão; a música eletrônica as festas em casas noturnas; e assim por diante.
E quanto maior for o intelecto
do povo, mais refinada será sua
cultura. Os instrumentos clássicos da Europa desde a Idade Antiga são os mais
sofisticados que existem. Isto evidencia que, com a evolução de um povo, toda
as camadas, instituições e mecanismos da sociedade evoluem junto.
As demais artes acompanham os seis
fatores. As magnificentes esculturas neoclássicas ou as pinturas ricas em
detalhes do Renascentismo retratavam a tendência artística e a transformação do
pensamento naquele período. Com a avançada técnica e instrução europeia, a
escultura, a pintura, a música, a dança, a literatura, a filosofia, a
arquitetura e o teatro tornaram-se modelos para o todo o mundo. Passando de
artistas com origens humildes como Van Gogh, a cotidianos mais nobres como o de
Beethoven, o acesso à cultura se popularizou.
É possível dizer que a cultura é a conservação
dos valores e tradições humanos, é a expressão máxima da própria natureza do Homem, transmitidos através
dos séculos e gerações. Arrisco-me a dizer que são os valores morais que, intrinsecamente ligados ao
nosso entendimento e ações, definirão por qual caminho a cultura irá seguir.
Mas, de quais valores morais me refiro? Uma moralidade relativa, oportunista
e até niilista que possa existir? Não. Refiro-me à moralidade objetiva, ou seja, aquela estabelecida
por Deus através de Moisés, mas já existente no coração do Homem desde sua criação.
Por exemplo, quanto mais distante se estiver da Moral divina, piores serão seus costumes e suas tradições.
Quando a moralidade for pouca (ou nula), prevalecerão práticas sexuais e
pecaminosas em seu cerne cultural, como em Sodoma e Gomorra. Se seus valores morais
se basearem na violência, prevalecerá a tradição voltada para a guerra, como na
cidade-Estado de Esparta. Se os valores se basearem na disseminação do
conhecimento, prevalecerão a filosofia e a instrução, como na Prússia.
A seguir uma foto da antiga cidade prussiana de Königsberg (hoje
Kaliningrado), um importante centro germânico cultural e intelectual da época.
Já foi residência de renomados filósofos como Arthur Schopenhauer e Immanuel
Kant.
A moralidade objetiva foi responsável pelas sociedades mais livres, prósperas e progressivas
da história da humanidade. Notem que apenas nos países em que a moralidade
objetiva foi implantada houveram os maiores
progressos tecnológicos e científicos do mundo. Mesmo os países asiáticos (Coréia
do Sul, Taiwan e Japão), onde não havia a noção de Cristianismo, só evoluíram
depois que os valores políticos e econômicos de uma nação cristã (os Estados Unidos) foram impostos após a Segunda
Guerra.
Ou seja, a cultura dos países muda radicalmente
com a implantação da moralidade objetiva cristã.
Ironicamente, ao afastar-se desta moralidade objetiva, a liberdade, a
prosperidade e a cultura tendem a estagnar-se, e é este mesmo afastamento que é
ferrenhamente defendido e enfaticamente proposto pelos progressistas. Em outras palavras, a política progressista é a mais
retrógrada que existe.
Mas esta relação entre Cultura e Moral, se não estiverem devidamente
equilibrados, tornam-se destoantes entre si, pois quanto menor for a moralidade, mais afastada
de Deus será a sua cultura. Quanto maior for a moralidade, mais próxima será
dele. E, independente da objetividade moral da sociedade, a cultura sempre
remeterá ao teísmo.
Ao analisarmos bem a história da humanidade, veremos que todas as
pequenas e grandes civilizações começaram ao
redor e em função de sua
religião. Ainda hoje a igreja fica na matriz das cidades. Não apenas igrejas,
mas mesquitas nos países islâmicos, sinagogas em Israel, templos hinduístas na
Índia, pagodas budistas na Ásia, e assim por diante. Mesmo nas culturas
indígenas o teísmo é fundamental, pois a adoração aos seus deuses faz parte de
seus rituais de curandeirismo.
Por curiosidade, segue uma foto de uma pagoda em Rangum, no Mianmar:
Portanto, o fator transcendental da religião
eu considero como um fator infinitamente superior
aos seis fatores, pois trata da fé,
e é mais difícil imaginar algo além do que se pode ver e compreender.
Primordialmente, com a sociedade recém-nascida criada a partir de uma
religião, os fatores da raça, etnia, local de origem se formam inicialmente.
Então, os fatores da classe social, intelecto e educação são posteriormente
formados. Mas todos, desde sua formação ao amadurecimento, surgem da relação cultura/moral, sempre orbitando ao
redor de sua religião.
A noção de uma sociedade (ou Estado) ateísta é notavelmente nova no mundo. O materialismo niilista
dos filósofos alemães do século 19 só foram aplicados no século seguinte, nas
primeiras décadas do século 20. Até
então todas as culturas e sociedades de pelo menos cinco milênios de história
registrada (desconsiderando os possíveis cinco milênios ainda antes destes)
basearam-se no teocentrismo, ou
seja, no teísmo como base de toda civilização.
Mas, presentes em todo o mundo, há um subproduto da cultura, como um fenômeno
social ou uma consequência já esperada: os ignorantes.
Estes, desprovidos de uma consciência cívica comum, ao se depararem com a
incômoda noção de cultura, provavelmente ignorarão sua existência e seus
efeitos, mas mal sabem eles que eles
mesmos fazem parte desta cultura, e que inclusive contribuem para ela, sendo sua própria existência um eco dos
séculos de costumes e tradição. Sua mera existência já é uma contribuição.
Considerando a importância cultural, é nisto onde os marxistas falham,
pois mesmo em suas revoluções a cultura, a religião e os valores morais não podem ser extirpados da sociedade. A
eliminação das classes dominantes, a manipulação da educação (doutrinação), a
transformação da sociedade (local de origem) e a destituição da noção de raça
se desfalecem assim que se perde o aparato de coerção do Estado. Mesmo um grande tirano como Mao Tse-tung
fracassou em sua Revolução Cultural. Intentar destruir a cultura através de uma
revolução leva ao fracasso. Em Cuba
ainda se toca Salsa, na Coreia do Norte ainda se vestem com o Hanbok, na União
Soviética ainda se utilizavam das magníficas orquestras dos tempos dos czares.
Entendo que para se destruir a cultura seria necessário destruir juntamente o
próprio pensamento humano.
Contudo, pode uma cultura superior suplantar outra inferior?
Particularmente, a resposta é não.
Apesar da dominação islâmica sobre os espanhóis, a península ibérica não pôde
ser totalmente assimilada, pois eles firmemente mantiveram sua própria língua, religião
e cultura durante os mais de 300 anos de dominação. Os poloneses (que na minha
opinião são o povo mais resiliente que existe) suportaram a dominação germânica
e russa por gerações, e mesmo assim
não tiveram sua língua, costumes e tradições varridos por seus dominadores. E
há mais vários exemplos, como os coreanos sob dominação japonesa, os chechenos
sob os russos, os armênios sob os turcos, os peruanos sob os espanhóis, etc.
No máximo a cultura pode ser adaptada,
mas nunca extirpada efetivamente como
pretendem aqueles que conquistam.
Ainda hoje existe um debate sobre a apropriação
cultural (ou na palavra dos ofendidos, um roubo) por parte de outras raças e
etnias. Há protestos sobre peças de vestimentas, cortes de cabelo, gêneros
musicais e até linguajares que, na visão dos ofendidos, devem pertencer somente
ao grupo social de onde eles se originaram.
Em uma observação pessoal, acredito que a cultura é um patrimônio imaterial da humanidade, portanto não se pode apropriá-la. Quem tem propriedade é a empresa, o indivíduo e a
instituição, mas a cultura é um bem imaterial de todos.
Concluindo, a Cultura é muito mais do que a expressão artística,
tradicional e intelectual de um povo, estas são apenas uma consequência. A
cultura é a própria vida em evolução.
- Eduardo Domingues
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