quarta-feira, 17 de outubro de 2018

A Aflição de Pilatos



Pilatos; como este governador do – uma vez – glorioso império romano procedeu diante da condenação do Unigênito Filho de Deus? Será que, afastando as ideias preconcebidas de “gentio”, “ímpio” e “idólatra”, é justo rotula-lo como um tirano estrangeiro que friamente condenou o nosso Salvador?

As referências a este admirável homem encontram-se nos três evangelhos sinóticos, mas citarei aqui também o evangelho canônico de João.

Após ser preso, julgado, espancado e até cuspido pelos fariseus, Jesus finalmente se encontra com Pôncio Pilatos, o conhecido governador romano. Perante o governador, Jesus é acusado e caluniado pelos sacerdotes, que diziam:

2. "Encontramos este homem subvertendo a nossa nação. Ele proíbe o pagamento de imposto a César e se declara ele próprio o Cristo, um rei".

Lucas 23:2

Então Pilatos, lhe pergunta:

3. "Você é o rei dos judeus?" E ele, respondendo, disse-lhe: "Tu o dizes".

Lucas 23:3

A Bíblia de Estudo Plenitude nos elucida por qual razão Pilatos lhe faz esta pergunta.

“A acusação de blasfêmia feita pelo Sinédrio (um tribunal composto de anciões e sacerdotes judeus) seria insignificante para Pilatos. Portanto, eles acusaram Jesus de rebelião por sustentar ser um rei”.

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 27:11, pág. 995.

Mas no Evangelho de João há mais detalhes do interrogatório entre Jesus e Pilatos. Conforme é possível se deduzir, Jesus ficou em silêncio diante das acusações dos fariseus, mas não em seu diálogo com o governador. Em João 18:33-38 diz:

33. Pilatos então voltou para o Pretório, chamou Jesus e lhe perguntou: "Você é o rei dos judeus? "
34. Perguntou-lhe Jesus: "Essa pergunta é tua, ou outros te falaram a meu respeito? "

Aqui é interessante observar que mesmo Jesus se admira com a pergunta de Pilatos. A suprema declaração de rei não é dada pelos judeus ao Senhor Jesus, mas por um gentio romano que, talvez inconscientemente, sabia de quem se tratava. 

35. Respondeu Pilatos: "Acaso sou judeu? Foram o seu povo e os chefes dos sacerdotes que entregaram você a mim. Que é que você fez? "
36. Disse Jesus: "O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui".

Jesus testifica de si mesmo, o que deixa Pilatos muito empolgado.

37. "Então, você é rei! ", disse Pilatos. Jesus respondeu: "Tu dizes que sou rei. De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem".

Desconhecedor e inculto da insondável sabedoria divina, o governador não reconhece a teologia à respeito da natureza do Senhor.

38. "Que é a verdade? ", perguntou Pilatos. Ele disse isso e saiu novamente para onde estavam os judeus e disse: "Não acho nele motivo algum de acusação.

João 18:33-38 

Os fariseus o acusavam incansavelmente, porém Jesus permanecia em silêncio. Intrigado, Pilatos o pergunta:

13. "Você não ouve a acusação que eles estão fazendo contra você? "
14. Mas Jesus não lhe respondeu nenhuma palavra, de modo que o governador ficou muito impressionado.


Mateus 27:13,14


Então Jesus é enviado ao rei Herodes, monarca da Galileia, mas este o despreza, pois esperava ver de Jesus algum milagre e novamente ele permanece o tempo todo em silêncio. Retornando ao governador, este convoca as autoridades judaicas e lhes diz:

14. "Vocês me trouxeram este homem como alguém que estava incitando o povo à rebelião. Eu o examinei na presença de vocês e não achei nenhuma base para as acusações que fazem contra ele.
15. Nem Herodes, pois ele o mandou de volta para nós. Como podem ver, ele nada fez que mereça a morte.
16. Portanto, eu o castigarei e depois o soltarei.


Lucas 23:14-16

Durante a festa da Páscoa, havia o costume de soltar um dos presos que o povo escolhesse. Havia outro homem, de nome Barrabás, que havia sido preso por iniciar uma rebelião contra o império e matar um homem. Em uma manobra sensata e compassiva, Pilatos tenta libertar a Jesus.

17. Pilatos perguntou à multidão que ali se havia reunido: "Qual destes vocês querem que lhes solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo? "
18. Porque sabia que o haviam entregado por inveja.


Mateus 27:17,18

Mas a multidão, incitada pelos fariseus, em uníssono grita:

18. "Acaba com ele! Solta-nos Barrabás! "

Lucas 23:18

Durante aquele espetáculo grotesco de coerção e injustiça, Pilatos bravamente resiste.

21. Mas eles continuaram gritando: "Crucifica-o! Crucifica-o! "
22. Pela terceira vez ele lhes falou: "Por quê? Que crime este homem cometeu? Não encontrei nele nada digno de morte. Vou mandar castigá-lo e depois o soltarei".

Lucas 23:21-22

Aqui é necessário observar como Pilatos, um homem gentio e pagão, se comportou diante do julgamento de Cristo. Ele demonstra misericórdia e equidade perante todos mas, rechaçado pelo próprio povo do acusado, é friamente entregue à morte.

E isto lhe causa profunda aflição.

A Bíblia relata um fato pouco conhecido no imaginário popular. Mesmo a esposa de Pilatos se envolveu, como fica claro a seguir:

19. Estando Pilatos sentado no tribunal, sua mulher lhe enviou esta mensagem: "Não se envolva com este justo, porque hoje, em sonho, sofri muito por causa dele".

Mateus 27:19

Portanto, não apenas o governador e o código penal romano viam a Jesus como inocente, mas sua esposa em sonhos também.

Pilatos insiste:

21. Então perguntou o governador: "Qual dos dois vocês querem que eu lhes solte? " Responderam eles: "Barrabás! "
22. Perguntou Pilatos: "Que farei então com Jesus, chamado Cristo? " Todos responderam: "Crucifica-o! "
23. "Por quê? Que crime ele cometeu? ", perguntou Pilatos. Mas eles gritavam ainda mais: "Crucifica-o! "


Mateus 27:21-23

Nesta passagem, a aflição de Pilatos chega ao clímax. Sem opções diante do povo, ele faz um ato que ficaria icônico ao seu respeito. Pilatos lava suas mãos.

24. Quando Pilatos percebeu que não estava obtendo nenhum resultado, mas, pelo contrário, estava se iniciando um tumulto, mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão e disse: "Estou inocente do sangue deste homem; a responsabilidade é de vocês".

Mateus 27:24

E o povo responde algo insano que seria eternamente lembrado nas gerações vindouras:

25. "Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos! "

Mateus 27:25


Pilatos então acata ao pedido do povo, entregando-os Jesus.

15. Desejando agradar a multidão, Pilatos soltou-lhes Barrabás, mandou açoitar Jesus e o entregou para ser crucificado.

Marcos 15:15

Em algumas traduções diz “agradar”, outras “satisfazer” o povo, mas pessoalmente creio que Pilatos quis evitar um tumulto. Em situações delicadas assim, geralmente resultavam em insurreições que, para o império, custariam seu governo e sua vida.

Jesus então é agredido e humilhado pelos soldados, mas ainda outra vez Pilatos se apresenta diante do povo em sua defesa.

4. Mais uma vez, Pilatos saiu e disse aos judeus: "Vejam, eu o estou trazendo a vocês, para que saibam que não acho nele motivo algum de acusação".
5. Quando Jesus veio para fora, usando a coroa de espinhos e a capa de púrpura, disse-lhes Pilatos: "Eis o homem! "

A Bíblia de Estudo Plenitude descreve esta curiosa expressão.

“A expressão Eis o homem não tinha o significado de um título de honra, mas era uma mistura de piedade e desdém. Pilatos encarava as exigências de Jesus mais como apropriadas para o ridículo do que para a ação legal séria”.

Fonte: B.E.P., nota 19.5, pág. 1102.

O governador relutava-se em ter qualquer envolvimento com esta morte, mas a cada tentativa os cínicos fariseus o instigavam mais e mais.

6. Ao vê-lo, os chefes dos sacerdotes e os guardas gritaram: "Crucifica-o! Crucifica-o! " Mas Pilatos respondeu: "Levem-no vocês e crucifiquem-no. Quanto a mim, não encontro base para acusá-lo".
7. Os judeus insistiram: "Temos uma lei e, de acordo com essa lei, ele deve morrer, porque se declarou Filho de Deus".

Os romanos tinham uma política de tolerância religiosa sobre os povos conquistados, e os fariseus tentam usar desta tolerância e sua lei como pretextos para matarem a Jesus. Se Pilatos não acatasse, estaria desrespeitando a religião do povo e colocando o governo à beira de uma insurreição.

8. Ao ouvir isso, Pilatos ficou ainda mais amedrontado
9. e voltou para dentro do palácio. Então perguntou a Jesus: "De onde você vem? ", mas Jesus não lhe deu resposta.
10. "Você se nega a falar comigo? ", disse Pilatos. "Não sabe que eu tenho autoridade para libertá-lo e para crucificá-lo? "

A aflição de Pilatos apenas aumentava com o silêncio de Cristo, mas este finalmente o responde de um jeito que, aos meus olhos, parece haver insolência de sua parte.

11. "Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima. Por isso, aquele que me entregou a ti é culpado de um pecado maior".


Não consigo entender o porquê, mas desde então Pilatos demonstrou tremenda compaixão para com o acusado.

12. Daí em diante Pilatos procurou libertar Jesus, mas os judeus gritavam: "Se deixares esse homem livre, não és amigo de César. Quem se diz rei opõe-se a César".

Desta vez os fariseus usam outra tática cínica: jogar o governador contra o próprio império. Neste momento os fariseus insistiam que eles não tinham reis, nem mesmo os seus próprios, além de César, o título romano para os imperadores daquele tempo.

Mas, cedendo ao povo, Jesus é finalmente condenado e crucificado.

Mais uma vez Pilatos faz algo que muito me fascina: ele testifica que Jesus era o rei do judeus não mais oralmente, mas por escrito.

18. Ali o crucificaram, e com ele dois outros, um de cada lado de Jesus.
19. Pilatos mandou preparar uma placa e pregá-la na cruz, com a seguinte inscrição: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.


Talvez o governador estivesse sendo irônico, se vingando do povo que o trouxe tamanho desconforto. Evidentemente os judeus detestaram o escrito.

21. Os chefes dos sacerdotes dos judeus protestaram junto a Pilatos: "Não escrevas ‘O Rei dos Judeus’, mas sim que esse homem se dizia rei dos judeus".

Mas, desafiador e triunfante, Pilatos responde:

22. "O que escrevi, escrevi".

João 19:4-22


Encerrando este texto, exponho aqui minhas considerações. A aflição de Pilatos de maneira alguma é uma apologia à inocência do governador – eu não me atreveria a tanto –, mas demonstra que mesmo um gentio, ímpio e idólatra foi capaz de reconhecer a inocência e a virtude de Cristo, das quais não foram reconhecidas nem pelos judeus.

Pilatos, em seu desprezo por este povo bárbaro e incivilizado, e despreocupado com suas primitivas crenças religiosas, a princípio não se importou com o julgamento de Cristo mas, diante das mais falsas e absurdas acusações ao seu respeito, defendeu-o, arriscando bravamente seu cargo e sua vida.     

Hoje a História o acusa de várias coisas: neutralidade covarde, tirânico e arrogante, executor da morte de Cristo... Mas poucos reconhecem seu esforço formidável para salvar a vida do nosso Senhor. Além disso, Pilatos – não sendo um judeu, mas um gentio – reconheceu a majestade divina do Filho, como o centurião também o reconheceu antes dele (Mt 8:5-13).

Não tenho ódio por Pilatos, mas respeito, por que ele declarou a majestade divina de Cristo, impressionando inclusive a Jesus (Jo 18:33-34). E ele era um gentio, como eu e você. Não tenho certeza da salvação de sua alma, mas testemunhos como o de Pilatos me fazem ter certeza daquela famosa passagem bíblica, que diz:

11. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.
12. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus (...).


João 1:11,12



- Eduardo Redux




terça-feira, 9 de outubro de 2018

As Mulheres na Bíblia - Parte 8 - Ana



Ana, a exemplar serva do Deus Vivo que por sua devoção se tornou a mãe de um dos maiores profetas da Bíblia, o profeta Samuel. Quem foi Ana e como ela conquistou este maravilhoso mérito?

Antes do estudo, segue o significado deste belo nome:

Ana: significa "graciosa" ou "cheia de graça".

"O nome Ana vem do original em hebraico Hannah, mais tarde do latim Anna, que quer dizer 'graciosa', 'cheia de graça'".

“Há pelo menos três personagens bíblicas com este nome, onde duas delas se destacam. A primeira é mencionada no Velho Testamento como a mãe do profeta Samuel, conhecida por ter engravidado em idade muito avançada. A segunda aparece no Novo Testamento como uma profetisa que reconhece o menino Jesus como o Messias”.


No início do primeiro livro de Samuel conta sua história. Ali diz:

1. Houve um homem de Ramataim-Zofim, da montanha de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efrateu.

Apesar do nome incomum, esta cidade era chamada apenas de Ramá. A Bíblia de Estudo Plenitude nos descreve melhor esta famosa cidade:

Ramataim-Zofim, que normalmente aparece como Ramá, está localizada a 10 km ao norte de Jerusalém, na região montanhosa. Foi o lugar de nascimento, residência e sepultamento de Samuel. Elcana... efraimita: os levitas era comumente associados à localização geográfica da tribo onde residiam. A presente linhagem tem a sua raiz em Levi; desse modo, Samuel procede de linha sacerdotal levítica”.

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 1.1, pág. 285. 

Surpreendentemente (como tudo na Bíblia), esta cidade existe até hoje.


2. E este tinha duas mulheres: o nome de uma era Ana, e o da outra Penina. E Penina tinha filhos, porém Ana não os tinha.

Aqui é importante ressaltar duas coisas. Ana vivia em um casamento poligâmico, pois seu marido tinha duas esposas. A poligamia é hoje proibida no Novo Testamento, mas antigamente vigorava a lei de Levirato (Dt 25:5-10), onde um homem podia se casar com sua cunhada caso seu irmão morresse sem deixar filhos.

Não nos é informado se seu marido, Elcana, vivia nesta condição. A Bíblia de Estudo Plenitude, porém, afirma que era costume naquela época um homem se casar com um segunda esposa caso a primeira fosse estéril, mas não nos deixa referências legais mosaicas desta prática.

Outro ponto importante é que Ana era estéril. No Antigo Testamento, uma mulher que não podia ter filhos era vista como amaldiçoada por Deus, uma vez que Deus prometeu que na Terra Prometida não haveria mulher que sofresse aborto ou fosse estéril (Ex 23:26). 

3. Subia, pois, este homem, da sua cidade, de ano em ano, a adorar e a sacrificar ao Senhor dos Exércitos em Siló; e estavam ali os sacerdotes do Senhor, Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli.

Por muito tempo (cerca de trezentos anos) o povo adorava ao Senhor em Siló, a cidade onde se encontrava o santo Tabernáculo, uma edificação de madeira e tecidos que precedia o famoso Templo de Jerusalém.


4. E sucedeu que no dia em que Elcana sacrificava, dava ele porções a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos, e a todas as suas filhas.
5. Porém a Ana dava uma parte excelente; porque amava a Ana, embora o Senhor lhe tivesse cerrado a madre.

Em outras traduções parte excelente está como “porção dupla”. A Bíblia Plenitude aponta uma tradução de difícil interpretação, onde dá a entender que Elcana tratava Ana como se ela, de fato, tivesse um filho.

6. E a sua rival excessivamente a provocava, para a irritar; porque o Senhor lhe tinha cerrado a madre.
7. E assim fazia ele de ano em ano. Sempre que Ana subia à casa do Senhor, a outra a irritava; por isso chorava, e não comia.
8. Então Elcana, seu marido, lhe disse: Ana, por que choras? E por que não comes? E por que está mal o teu coração? Não te sou eu melhor do que dez filhos?

Elcana nos dá exemplo de um varão valoroso e admirável nesta passagem. Apesar da esterilidade da esposa, ele nos mostra como ser um bom marido, amando sua esposa na saúde ou na doença e seguindo fielmente o mandamento paulino, do qual o apóstolo diz:

19. Maridos, amem suas mulheres e não as tratem com amargura.

Colossenses 3:18-19

A seguir, Ana se dirige ao tabernáculo e chora amargamente, fazendo um voto que mudaria o destino de todo o Israel.

11. E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho homem, ao Senhor o darei todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.

Talvez esta passagem pareça um pouco incomum, mas Ana falava do voto de nazireu (Nm 6:1-8), do qual era usado para separar alguém para Deus durante um período específico de tempo. Durante este tempo o cabelo não era cortado. Sansão participou deste voto (Jz 13:5).

Ao ver Ana orando, o sacerdote Eli a acusa de embriaguez. Ela, porém, se justifica dizendo estar sofrendo de profunda tribulação. Então o sacerdote lhe responde:

17. Vai em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste.

Ao que parece, antigamente o sumo sacerdote tinha o poder e autoridade de conceder a bênção divina a alguém. Apesar de tomarmos posse da palavra dos pastores e ministros quando lançadas, hoje a bênção do sacerdote não é mais necessário, pois em João 14:13-14 Jesus disse:

13. E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.
14. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.


João 14:13,14

Ana volta para a casa e, no devido tempo, o Senhor lhe dá um filho.

20. E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e deu à luz um filho, ao qual chamou Samuel; porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor.

No ano seguinte, a sábia mulher Ana não viola seu voto, ao invés ela revela seu intento ao marido:

22. Porém Ana não subiu; mas disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então o levarei, para que apareça perante o Senhor, e lá fique para sempre.

Mais uma vez Elcana se demonstra um admirável marido, pois este não desencoraja sua esposa, ao invés a apoia:

23. E Elcana, seu marido, lhe disse: Faze o que bem te parecer aos teus olhos; fica até que o desmames; então somente confirme o Senhor a sua palavra. Assim ficou a mulher, e deu leite a seu filho, até que o desmamou.

Chegado o tempo certo, Ana pega seu filho e mais algumas ofertas e se dirige à Siló. Deparando-se com Eli, ela diz:

26. E disse ela: Ah, meu senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, para orar ao SENHOR.
27. Por este menino orava eu; e o Senhor atendeu à minha petição, que eu lhe tinha feito.
28. Por isso também ao Senhor eu o entreguei, por todos os dias que viver, pois ao Senhor foi pedido. E adorou ali ao Senhor.


1 Samuel 1:1-28


É necessário apontar para um fato fundamental na atitude de Ana. Ela cumpriu seu voto ao Senhor. Muitas vezes, nós, os servos de Cristo, fazemos votos e irresponsavelmente o quebramos, trazendo por consequência a ira do Senhor sobre nós.

Na Bíblia existem algumas passagens que advertem aqueles que ousam quebrar os votos que fazem a Deus.

21. Quando fizeres algum voto ao Senhor teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o Senhor teu Deus certamente o requererá de ti, e em ti haverá pecado.
22. Porém, abstendo-te de votar, não haverá pecado em ti.
23. O que saiu dos teus lábios guardarás, e cumprirás, tal como voluntariamente votaste ao Senhor teu Deus, declarando-o pela tua boca.


Deuteronômio 23:21-23

4. Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o.
5. Melhor é que não votes do que votares e não cumprires.


Eclesiastes 5:4,5

E finalmente a lição a nós, cristãos, de como procedermos em relação ao voto:

33. Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor.
34. Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus;
35. Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei;
36. Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto.
37. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.


Mateus 5:33-37

Deus se lembrará de quem não cumprir os votos em Seu nome, e o castigo será terrível. A Bíblia nos alerta quanto ao horripilante infortúnio de se cair nas mãos do Senhor. Na carta aos Hebreus diz:

31. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.

Hebreus 10:31

No capítulo 2, há o belíssimo cântico de Ana, onde encontramos mais excelentes lições para toda a Igreja (leitura opcional).

1. Então orou Ana, e disse: O meu coração exulta ao SENHOR, o meu poder está exaltado no SENHOR; a minha boca se dilatou sobre os meus inimigos, porquanto me alegro na tua salvação.
2. Não há santo como o Senhor; porque não há outro fora de ti; e rocha nenhuma há como o nosso Deus.

No v. 2 ela testifica do poder de Deus usando a metáfora de uma rocha. É muito semelhante ao livro de Salmos, quando Davi disse:

1. Vinde, cantemos ao SENHOR; jubilemos à rocha da nossa salvação.

Salmos 95:1

3. Não multipliqueis palavras de altivez, nem saiam coisas arrogantes da vossa boca; porque o Senhor é o Deus de conhecimento, e por ele são as obras pesadas na balança.

Aqui há outra valiosa lição e advertência aos soberbos de coração. Semelhantemente, no livro de Provérbios diz:

5. Todo homem arrogante é abominação ao Senhor; certamente não ficará impune.

Provérbios 16:5

4. O arco dos fortes foi quebrado, e os que tropeçavam foram cingidos de força.

Ana adverte que todo homem que confia em sua própria força serão abatidos. Isto fica claro na famosa passagem de Jeremias, que diz:

5. Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!

Jeremias 17:5

5. Os fartos se alugaram por pão, e cessaram os famintos; até a estéril deu à luz sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraqueceu.
6. O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela.

Jó falou algo semelhante em seu livro, quando seus filhos tragicamente morreram e ele bradou:

20. Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou.
21. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor.
22. Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.


Jó 1:20-22

7. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta.
8. Levanta o pobre do pó, e desde o monturo exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo.

Desta vez Salomão diz algo parecido. É Deus quem enriquece o homem, como ele mesmo o foi e deu testemunho em sua pregação, a seguir:

19. E a todo o homem, a quem Deus deu riquezas e bens, e lhe deu poder para delas comer e tomar a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus.

Eclesiastes 5:19

9. Os pés dos seus santos guardará, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas; porque o homem não prevalecerá pela força.

Relacionando as passagens, faço aqui uma aproximação com o verso de Ana. Jesus diz que seus discípulos seriam imbatíveis na pregação do Evangelho, e creio que esta promessa dure até hoje.

19. Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum.

Lucas 10:19

10. Os que contendem com o Senhor serão quebrantados, desde os céus trovejará sobre eles; o Senhor julgará as extremidades da terra; e dará força ao seu rei, e exaltará o poder do seu ungido.

Esta é uma maravilhosa menção ao reino eterno do Cordeiro, escrita por Ana há mais de mil anos antes de Jesus vir ao mundo.

17. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18. Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.


João 3:17,18

E então se encerra o cântico de Ana, cheia de revelações aos cristãos.


Ana ainda visitava a Samuel, voltando de ano em ano a Siló. Além de Ana, Eli ainda abençoa a seu marido, profetizando ainda mais filhos além de Samuel.

20. E Eli abençoava a Elcana e a sua mulher, e dizia: O Senhor te dê descendência desta mulher, pela petição que fez ao Senhor. E voltavam para o seu lugar.
21. Visitou, pois, o Senhor a Ana, que concebeu, e deu à luz três filhos e duas filhas; e o jovem Samuel crescia diante do Senhor.


1 Samuel 2:1-21

Vemos que Ana ainda teve mais cinco filhos após Samuel. Quão abençoada é a vida daquele que crê e cumpre seus votos ao Senhor!

Resumindo em tópicos, seguem algumas lições que podemos aprender com Ana:

  • Ana obedecia e permanecia fiel ao seu marido, apesar deste se casar com outra que lhe desse filhos (1 Sm 1:2);
  • Apesar das provocações, Ana não confrontou sua rival, não pondo sol à sua ira (Ef 4:26-27);
  • Ana permaneceu firme, não desfalecendo sua fé no Senhor (Hb 11:1);
  • O voto de Ana foi duro, mas ela foi devota e obedeceu fielmente (1 Sm 22-24);
  • Ela agradece a Deus pelo milagre alcançado (1 Sm 2:1-2);
  • Em seu cântico, Ana de certa forma doutrina os fiéis quanto ao poder e justiça de Deus (1 Sm 2:1-10);
  • E principalmente, Ana mostra que a fidelidade a Deus nos recompensa com muito mais do que pedimos ou pensamos (1 Sm 2:21).     


E assim aprendemos com Ana que, se formos fieis e obedientes, receberemos grandes e maravilhosas bênçãos do Senhor!



- Eduardo Redux




sábado, 6 de outubro de 2018

O Divórcio é Pecado? - Parte Final


  
Continuando o estudo sobre a legalidade do Divórcio, na Bíblia há passagens onde ele parece ser lícito. No Velho Testamento, quando ele ainda vigorava, há uma interessante parte que se assemelhava muito ao divórcio.

No livro de Esdras, o povo finalmente retorna do cativeiro babilônico, mas encontra-se em pecado devido ao casamento ilícito com mulheres estrangeiras. Em Esdras 10:2 diz:

2. Então Secanias, filho de Jeiel, um dos descendentes de Elão, disse a Esdras: "Fomos infiéis ao nosso Deus quando nos casamos com mulheres estrangeiras procedentes dos povos vizinhos. Mas, apesar disso, ainda há esperança para Israel.
3. Façamos agora um acordo diante do nosso Deus, e mandemos de volta todas essas mulheres e seus filhos, segundo o conselho do meu senhor e daqueles que tremem diante dos mandamentos de nosso Deus. Que isso seja feito em conformidade com a Lei.


Esdras 10:2,3
  
Secanias falava a respeito da Lei de Moisés, sobre não se misturar com os povos cananeus (Ex 34:14-16). Esdras assente ao pedido do povo, dizendo:

10. Então se levantou Esdras, o sacerdote, e disse-lhes: Vós tendes transgredido, e casastes com mulheres estrangeiras, aumentando a culpa de Israel.
11. Agora, pois, fazei confissão ao Senhor Deus de vossos pais, e fazei a sua vontade; e apartai-vos dos povos das terras, e das mulheres estrangeiras.
12. E respondeu toda a congregação, e disse em altas vozes: Assim seja, conforme às tuas palavras nos convém fazer.


Esdras 10:10-12

E assim procede o povo pós-exílico, repudiando suas mulheres estrangeiras em uma espécie de divórcio legalizado.

Em uma observação pessoal, esta pode ser considerada como uma extensão do conselho paulino de não se misturar com os ímpios, o “jugo desigual” como ele dizia (2 Cor 6:14). O Novo Testamento ordena que não haja divórcio sob qualquer circunstância, mas ao invés de pecar se misturando com os ímpios, antes previna-se deles obedecendo ao Senhor.  

É necessário relembrar que a lei valia para o tempo de Esdras, mas hoje não vale mais, portanto é melhor que se obedeça a Deus antes do que sofrer a consequência por toda sua vida depois.

15. Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos. 

João 14:15


Mesmo Deus usa o divórcio como lição ao povo impenitente. No livro de Jeremias ele diz:

1. "Se um homem se divorciar de sua mulher, e, se ela, depois de deixá-lo, casar-se com outro homem, poderá o primeiro marido voltar para ela? Não seria a terra totalmente contaminada? Mas você tem se prostituído com muitos amantes e, agora, quer voltar para mim? ", pergunta o Senhor.

Jeremias 3:1

Nesta passagem, Deus recita a Lei de Moisés, onde a carta de divórcio proibia que alguém que, repudiando sua mulher, se casasse com ela de novo.

2. Se, depois de sair da casa, ela se tornar mulher de outro homem,
3. e o seu segundo marido não gostar mais dela, lhe dará certidão de divórcio, e mandará embora a mulher. Ou também, se ele morrer,
4. o primeiro marido, que se divorciou dela, não poderá casar-se com ela de novo, visto que ela foi contaminada. Seria detestável para o Senhor. Não tragam pecado sobre a terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança.


Deuteronômio 24:2-4

De fato, o povo de Israel várias vezes cometeu o pecado de prostituição espiritual contra Deus, mas Deus nunca realmente se “divorciou” do povo, ao invés, o castigou em todas as vezes (Ez 23:49).

Talvez esta seja uma evidência do infinito amor e longanimidade de Deus, pois se Ele realmente tivesse se “divorciado” de seu povo, este já teria sido destruído e desaparecido para sempre.

No livro de Oseias, Deus usa o casamento do profeta como uma alegoria para o próprio adultério espiritual de Israel. A mando do Senhor, o profeta se casa com uma mulher adúltera, geram filhos e os nomeiam segundo os pecados do povo.

2. O princípio da palavra do Senhor por meio de Oséias. Disse, pois, o Senhor a Oséias: Vai, toma uma mulher de prostituições, e filhos de prostituição; porque a terra certamente se prostitui, desviando-se do Senhor.

Oséias 1:2

Mas Gômer, a esposa de Oseias (Os 1:3), o trai e Deus manda repreende-la assim como o próprio Deus repreende o povo por suas prostituições.

2. Repreendam sua mãe, repreendam-na, pois ela não é minha mulher, e eu não sou seu marido. Retire ela do rosto a aparência adúltera e do meio dos seios a infidelidade.

Oséias 2:2

Em seguida Deus manda perdoa-la, assim como Ele perdoará os pecados de todo o povo nos últimos dias.

1. O Senhor me disse: "Vá, trate novamente com amor sua mulher, apesar de ela ser amada por outro e ser adúltera. Ame-a como o Senhor ama os israelitas, apesar de eles se voltarem para outros deuses e de amarem os bolos sagrados de uvas passas".
2. Por isso eu a comprei por cento e oitenta gramas de prata e um barril e meio de cevada.
3. E eu lhe disse: Você viverá comigo por muitos dias; você não será mais prostituta nem será de nenhum outro homem, e eu viverei com você.


Oséias 3:1-3

Isto pode ser difícil para os traídos, mas há uma solução para quem não quer passar pela dor do divórcio: o perdão.

Perdoar pode ser difícil, pois a ferida sentimental é muito difícil de se superar, mas esta lição tiramos do próprio Jesus Cristo quando ele disse:

21. Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?
22. Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.


Mateus 18:21,22

Se a um irmão, que não tem qualquer laço conosco, devemos perdoar setenta vezes sete vezes, quanto mais a uma esposa ou marido.

12. Assim, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revesti-vos de um coração pleno de compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. 
13. Zelai uns pelos outros e perdoai-vos mutuamente; caso alguém tenha algum protesto contra o outro, assim como o Senhor vos perdoou, assim também procedei. 

Colossenses 3:13  

Entretanto, por ser um tema tão delicado, é melhor que cada um decida como melhor proceder.


No livro de Malaquias há a expressão máxima do sentimento de Deus em relação ao divórcio.

16. "Eu odeio o divórcio", diz o Senhor, o Deus de Israel, e "o homem que se cobre de violência como se cobre de roupas", diz o Senhor dos Exércitos. Por isso tenham bom senso; não sejam infiéis.

Malaquias 2:16

A Bíblia de Estudo Plenitude descreve a passagem acima:

“Quando duas pessoas se casam, Deus se coloca como uma testemunha do casamento, selando-o com a palavra mais forte possível: concerto ou aliança. A ‘aliança’ fala sobre a fidelidade e compromisso contínuos. Ela fica como uma sentinela divina sobre o casamento, para bênção ou para julgamento”.

“O divórcio aqui é descrito como violência. Iniciar o divórcio causa violência ao propósito de Deus para o casamento e ao cônjuge a quem alguém se juntou”.

“Contudo, onde quer que o marido e a esposa vivam de acordo com os votos do seu casamento, toda a força de um Deus que mantém a aliança fica atrás deles e em seu casamento. Que confiança saber que Deus sustenta o matrimônio. Seu poder e autoridade se colocam contra cada inimigo que, violentamente, o ameaçam de dentro ou de fora”.

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 2:13-16, pag. 938.

Tomem cuidado, meus irmãos. A Palavra de Deus deve ser levada a sério. Apesar da Bíblia aceitar o divórcio em caso de adultério, na Lei de Moisés a infidelidade conjugal era punida com a morte.

10. Se um homem cometer adultério com a mulher de outro homem, com a mulher do seu próximo, tanto o adúltero quanto a adúltera terão que ser executados.

Levítico 20:10

Jesus perdoou a mulher adúltera (Jo 8:1-11), mas o cônjuge prejudicado pode não perdoar uma traição (Pv 6:34-35). Tenham isso em vosso coração se a tentação vos afligirem.


Mas, se tal é a condição do homem para com a sua mulher (e vice versa), como proceder em caso de crise conjugal?

A Bíblia é clara quanto a crise no casamento. Na carta aos Efésios, Paulo nos exorta:

22. Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor;
23. Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo.
24. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos.
25. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,

Efésios 5:22-25

E o apóstolo o complementa de maneira mais sucinta em sua carta aos Colossenses. A Palavra diz:

18. Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como convém a quem está no Senhor.
19. Maridos, amem suas mulheres e não as tratem com amargura.


Colossenses 3:18-19

Desta forma, o divórcio nunca será um risco ao casamento, pois o casal se tratará perenemente com amor, se não por sentimento, então por mandamento, em obediência única a Jesus Cristo.

Resumindo em tópicos, deixo aqui as orientações bíblicas quanto à licitude do divórcio:

·         A carta de divórcio não é mais válida, portanto o divórcio sumário está oficialmente proibido no Novo Testamento (Mt 5:31-32);
·         Entretanto, o divórcio é lícito em caso de adultério (Mt 18:9);
·         O divórcio pode ser lícito também se o cônjuge induzir o crente à prostituição espiritual, como a idolatria, o politeísmo, a magia e o paganismo (Ex 34:14-16);  
·         Não devemos nos casar com os ímpios, submetendo-nos ao jugo desigual (2 Co 6:14-16, Es 10:10-12);
·         Em caso de eventual separação, o casado deve se reconciliar com seu cônjuge ou abster-se totalmente de se casar novamente (1 Cor 7:10-11);
·         Não devemos nos divorciar se nos convertermos e o cônjuge não (1 Cor 7:10-11);
·         Porém o divórcio é válido se o cônjuge ímpio quiser a separação. Mas a iniciativa deve partir sempre dele, e não do crente (1 Cor 7:15-16);
·         O casamento é indissolúvel, até que a morte nos separe (Mt 19:11-12);
·         O divórcio pode ser evitado se a parte prejudicada conceder o perdão (Os 3:13);
·         O casamento pode ser mantido se obedecermos à Cristo, amando-se mutuamente por mandamento (Ef 5:22-25, Co 3:18-19);
·         E o último e mais importante, Deus odeia o divórcio (Ml 2:16).

Assim concluo este extenso estudo. Ainda poderia citar muito mais passagens, mas espero que o conteúdo citado elucide as dúvidas que, porventura, o cristão vir a ter.


- Eduardo Redux



quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O Divórcio é Pecado? - Parte 1



O divórcio é pecado segundo a Bíblia? Esta é uma dúvida que parece ser ignorada em nossa sociedade moderna, inclusive pelos cristãos. Entretanto, há condições e exceções em que a Bíblia o permite?

A parte mais incisiva da Bíblia quanto ao divórcio encontra-se no evangelho de Mateus. Os fariseus, com a intenção de flagrar Jesus em blasfêmia, lhes perguntaram se era lícito repudiar (ou separa-se) de sua mulher. Este os respondeu:

4. Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez,
5. E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?
6. Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.


Mateus 19:4-6  

Neste trecho, Jesus cita a primeira passagem bíblica onde evidencia-se a fundação do casamento monogâmico. No capítulo 2 do livro de Gênesis diz:

22. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão.
23. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada.
24. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.


Gênesis 2:22-24

Para quem quiser saber mais sobre a legitimidade do casamento monogâmico, segue o link de minha postagem no meu blog:


Em seguida, os fariseus o perguntam:

7. Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la?

Mateus 19:7

Apesar do ardil para prenderem Jesus, esta pergunta foi muito pertinente. De fato, os fariseus citavam a passagem do livro de Deuteronômio, escrito por Moisés no Antigo Testamento.

1. Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa.

Deuteronômio 24:1

Desta forma, todo o povo se encheu de dúvida, como muitos cristãos se enchem hoje, quanto à validade do divórcio perante o Senhor. Mas Jesus, em sua infinita sabedoria e conhecimento das Escrituras, novamente os responde, dizendo:

8. Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim.
9. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.


Mateus 19:8-9

Aqui é necessário uma breve lição teológica quanto ao termo fornicação (v. 9). Em algumas traduções é substituído por “prostituição”, “relações sexuais ilícitas” ou “adultério”. A Bíblia de Estudo Plenitude, referenciando o ensino sobre o adultério no capítulo 5 de Mateus, emite uma nota, a seguir:

“Os fariseus interpretaram os ensinamentos de Moisés sobre o divórcio (Dt 24.1) como significando que um homem poderia divorciar-se de sua esposa mediante qualquer motivo. Aqui, Jesus opõe-se ao abuso deles, restringindo o divórcio aos fundamentos das relações sexuais ilícitas, uma expressão que significa qualquer desvio dos padrões bíblicos claramente definidos para a atividade sexual (por exemplo, homossexualidade, adultério, fornicação e prostituição).

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 5.31-32, pag. 960.

Esta palavra no texto original (em grego do século 1) é πορνεί , lendo-se porneia , e tem significado idêntico ao citado na Bíblia de Estudo Plenitude. No site biblehub.com é traduzida como fornicação, prostituição e idolatria.

Fonte da passagem bíblica em grego: https://biblehub.com/whdc/matthew/19.htm

Fonte da definição de porneia (em inglês): https://biblehub.com/greek/4202.htm
  

Em uma observação pessoal, pude relacionar o porneia de Mt 19:9 com uma prostituição não somente carnal, mas espiritual segundo a Bíblia.

Para Deus, aqueles que abandonam a fé em seu nome e entregam-se à idolatria, cometem adultério espiritual, prostituindo-se a outros deuses. Isto fica evidente no livro de Êxodo, nas seguintes passagens:

14. Nunca adore nenhum outro deus, porque o Senhor, cujo nome é Zeloso, é de fato Deus zeloso.
15. "Acautele-se para não fazer acordo com aqueles que já vivem na terra; pois quando eles se prostituírem, seguindo aos seus deuses e lhes oferecerem sacrifícios, convidarão você e poderão levá-lo a comer dos seus sacrifícios
16. e escolher para os seus filhos mulheres dentre as filhas deles. Quando elas se prostituírem, seguindo aos seus deuses, poderão levar os seus filhos a se prostituírem também”.


Êxodo 34:14-16

Ou no livro de Oséias quando Deus, falando através do profeta, diz:

12. Eis que o meu povo tem consultado ídolos de madeira, e de um pedaço de pau acreditam que recebem respostas. Ora, um espírito de prostituição os seduz; e eles, prostituindo-se, se afastam e abandonam o seu Deus.   

Oséias 4:12

Para quem quiser saber mais sobre a prostituição espiritual, deixo os links de minhas postagens sobre este assunto no meu blog:



Todavia, é correto afirmar que a prostituição espiritual valida o divórcio?

Paulo, em diversas passagens bíblicas, fala a respeito do casamento. Em uma de suas passagens ele fala sobre o famoso “jugo desigual”. Na segunda carta aos Coríntios ele diz:

14. Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?
15. E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?
16. E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.


2 Coríntios 6:14-16

Portanto, não devemos nos unir com os infiéis, pois estes nos farão pecar, induzindo-nos ao pecado muitas vezes ao da prostituição. Isto significa que não devemos sequer cogitar casamento com eles, pois há o risco de nos tornarmos igualmente idólatras.

Devemos conservar a nossa fé e salvação em Cristo.

Em sua primeira carta aos Coríntios, o apóstolo nos esclarece mais profundamente este assunto. Primeiro ele reforça a ideia de não nos divorciarmos, assim cumprindo o mandamento divino:

10. Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido.
11. Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.


1 Coríntios 7:10,11

Em seguida, nos aconselha a permanecermos com os nossos cônjuges, independente destes se converterem ou não.

12. Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a abandone.
13. E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não deixe o marido.
14. Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos.


1 Coríntios 7:12-14

Mas se, por alguma razão, o cônjuge descrente vier a separar-se, estamos livres para deixa-los ir, assim validando o divórcio.

15. Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.
16. Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?


1 Coríntios 7:15,16


Não é pecado o divórcio entre um fiel e um infiel, mas a iniciativa deve vir do infiel sempre. A Bíblia de Estudo Plenitude nos elucida melhor esta ideia:

“Aos mais: Essa seção trata do casamento entre um crente e um descrente. Jesus não orientou sobre isso; então, Paulo deve responder com sua autoridade apostólica. Os casamentos em que um dos parceiros se torna cristão mais tarde são válidos e devem permanecer intactos. Qualquer separação dever ser iniciada pelo parceiro descrente”.

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 7:12-16, pag. 1187.

Há um complemento em outra nota, a seguir:

“Quando um descrente inicia um divórcio além do controle do crente, o crente está livre do relacionamento e não fica sujeito à servidão de mantê-lo intacto. Paulo se cala em relação a um novo casamento em uma situação como esta”.

Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 7:15, pag. 1187.

Voltando ao evangelho de Mateus, os discípulos não ficam nada contentes com o ensinamento.

10. Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.

Mateus 19:10

Jesus, porém, não se importa com seus descontentamentos. Na verdade ele não dá a mínima. Em sua resposta ele diz:

11. Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido.
12. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.


Mateus 19:11,12



Continua na Parte Final.




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