Pilatos; como este governador do – uma vez – glorioso
império romano procedeu diante da condenação do Unigênito Filho de Deus? Será
que, afastando as ideias preconcebidas de “gentio”, “ímpio” e “idólatra”, é
justo rotula-lo como um tirano estrangeiro que friamente condenou o nosso
Salvador?
As referências a este admirável homem encontram-se nos três
evangelhos sinóticos, mas citarei aqui também o evangelho canônico de João.
Após ser preso, julgado, espancado e até cuspido pelos fariseus,
Jesus finalmente se encontra com Pôncio Pilatos, o conhecido governador romano.
Perante o governador, Jesus é acusado e caluniado pelos sacerdotes, que diziam:
2. "Encontramos
este homem subvertendo a nossa nação. Ele proíbe o pagamento de imposto a César
e se declara ele próprio o Cristo, um rei".
Lucas 23:2
Então Pilatos, lhe pergunta:
3. "Você é o rei dos judeus?" E ele, respondendo, disse-lhe:
"Tu o dizes".
Lucas 23:3
Lucas 23:3
A Bíblia de Estudo Plenitude nos elucida por qual razão
Pilatos lhe faz esta pergunta.
“A acusação de blasfêmia feita pelo Sinédrio (um tribunal
composto de anciões e sacerdotes judeus) seria insignificante para Pilatos.
Portanto, eles acusaram Jesus de rebelião por sustentar ser um rei”.
Fonte: Bíblia de Estudo Plenitude, nota 27:11, pág. 995.
Mas no Evangelho de João há mais detalhes do interrogatório
entre Jesus e Pilatos. Conforme é possível se deduzir, Jesus ficou em silêncio
diante das acusações dos fariseus, mas não em seu diálogo com o governador. Em
João 18:33-38 diz:
33. Pilatos então
voltou para o Pretório, chamou Jesus e lhe perguntou: "Você é o rei dos
judeus? "
34. Perguntou-lhe Jesus: "Essa pergunta é tua, ou outros te falaram a meu respeito? "
34. Perguntou-lhe Jesus: "Essa pergunta é tua, ou outros te falaram a meu respeito? "
Aqui é
interessante observar que mesmo Jesus se admira com a pergunta de Pilatos. A
suprema declaração de rei não é dada pelos judeus ao Senhor Jesus, mas por um
gentio romano que, talvez inconscientemente, sabia de quem se tratava.
35. Respondeu Pilatos: "Acaso sou judeu? Foram o seu povo e os chefes dos sacerdotes que entregaram você a mim. Que é que você fez? "
36. Disse Jesus: "O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui".
Jesus testifica
de si mesmo, o que deixa Pilatos muito empolgado.
37. "Então, você é rei! ", disse Pilatos. Jesus respondeu: "Tu dizes que sou rei. De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem".
Desconhecedor e
inculto da insondável sabedoria divina, o governador não reconhece a teologia à
respeito da natureza do Senhor.
38. "Que é a verdade? ", perguntou Pilatos. Ele disse isso e saiu novamente para onde estavam os judeus e disse: "Não acho nele motivo algum de acusação.
João 18:33-38
Os fariseus o acusavam incansavelmente, porém Jesus
permanecia em silêncio. Intrigado, Pilatos o pergunta:
13. "Você não
ouve a acusação que eles estão
fazendo contra você? "
14. Mas Jesus não lhe respondeu nenhuma palavra, de modo que o governador ficou muito impressionado.
Mateus 27:13,14
14. Mas Jesus não lhe respondeu nenhuma palavra, de modo que o governador ficou muito impressionado.
Mateus 27:13,14
Então Jesus é enviado ao rei Herodes, monarca da Galileia,
mas este o despreza, pois esperava ver de Jesus algum milagre e novamente ele
permanece o tempo todo em silêncio. Retornando ao governador, este convoca as
autoridades judaicas e lhes diz:
14. "Vocês me
trouxeram este homem como alguém que estava incitando o povo à rebelião. Eu o examinei na presença de
vocês e não achei nenhuma base para
as acusações que fazem contra ele.
15. Nem Herodes, pois ele o mandou de volta para nós. Como podem ver, ele nada fez que mereça a morte.
16. Portanto, eu o castigarei e depois o soltarei.
Lucas 23:14-16
15. Nem Herodes, pois ele o mandou de volta para nós. Como podem ver, ele nada fez que mereça a morte.
16. Portanto, eu o castigarei e depois o soltarei.
Lucas 23:14-16
Durante a festa da Páscoa, havia o costume de soltar um dos
presos que o povo escolhesse. Havia outro homem, de nome Barrabás, que havia sido
preso por iniciar uma rebelião contra o império e matar um homem. Em uma
manobra sensata e compassiva, Pilatos tenta libertar a Jesus.
17. Pilatos perguntou
à multidão que ali se havia reunido: "Qual destes vocês querem que lhes
solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?
"
18. Porque sabia que o haviam entregado por inveja.
Mateus 27:17,18
18. Porque sabia que o haviam entregado por inveja.
Mateus 27:17,18
Mas a multidão, incitada pelos fariseus, em uníssono grita:
18. "Acaba com
ele! Solta-nos Barrabás! "
Lucas 23:18
Lucas 23:18
Durante aquele espetáculo grotesco de coerção e injustiça,
Pilatos bravamente resiste.
21. Mas eles
continuaram gritando: "Crucifica-o!
Crucifica-o! "
22. Pela terceira vez ele lhes falou: "Por quê? Que crime este homem cometeu? Não encontrei nele nada digno de morte. Vou mandar castigá-lo e depois o soltarei".
22. Pela terceira vez ele lhes falou: "Por quê? Que crime este homem cometeu? Não encontrei nele nada digno de morte. Vou mandar castigá-lo e depois o soltarei".
Lucas 23:21-22
Aqui é necessário
observar como Pilatos, um homem gentio e pagão, se comportou diante do
julgamento de Cristo. Ele demonstra misericórdia e equidade perante todos mas,
rechaçado pelo próprio povo do acusado, é friamente entregue à morte.
E isto lhe causa
profunda aflição.
A Bíblia relata um fato pouco conhecido no imaginário popular. Mesmo a esposa de Pilatos se envolveu, como fica claro a seguir:
19. Estando Pilatos
sentado no tribunal, sua mulher lhe
enviou esta mensagem: "Não se
envolva com este justo, porque hoje,
em sonho, sofri muito por causa dele".
Mateus 27:19
Mateus 27:19
Portanto, não apenas o governador e o código penal romano
viam a Jesus como inocente, mas sua esposa em
sonhos também.
Pilatos insiste:
21. Então perguntou o
governador: "Qual dos dois vocês querem que eu lhes solte? "
Responderam eles: "Barrabás! "
22. Perguntou Pilatos: "Que farei então com Jesus, chamado Cristo? " Todos responderam: "Crucifica-o! "
23. "Por quê? Que crime ele cometeu? ", perguntou Pilatos. Mas eles gritavam ainda mais: "Crucifica-o! "
Mateus 27:21-23
22. Perguntou Pilatos: "Que farei então com Jesus, chamado Cristo? " Todos responderam: "Crucifica-o! "
23. "Por quê? Que crime ele cometeu? ", perguntou Pilatos. Mas eles gritavam ainda mais: "Crucifica-o! "
Mateus 27:21-23
Nesta passagem, a aflição de Pilatos chega ao clímax. Sem
opções diante do povo, ele faz um ato que ficaria icônico ao seu respeito.
Pilatos lava suas mãos.
24. Quando Pilatos
percebeu que não estava obtendo nenhum resultado, mas, pelo contrário, estava
se iniciando um tumulto, mandou
trazer água, lavou as mãos diante da
multidão e disse: "Estou inocente
do sangue deste homem; a responsabilidade é de vocês".
Mateus 27:24
Mateus 27:24
E o povo responde algo insano que seria eternamente lembrado
nas gerações vindouras:
25. "Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos! "
Mateus 27:25
Mateus 27:25
Pilatos então acata ao pedido do povo, entregando-os Jesus.
15. Desejando agradar a multidão, Pilatos soltou-lhes
Barrabás, mandou açoitar Jesus e o
entregou para ser crucificado.
Marcos 15:15
Marcos 15:15
Em algumas traduções diz “agradar”, outras “satisfazer” o povo, mas
pessoalmente creio que Pilatos quis
evitar um tumulto. Em situações delicadas assim, geralmente
resultavam em insurreições que, para o império, custariam seu governo e sua vida.
Jesus então é agredido e humilhado pelos soldados, mas ainda
outra vez Pilatos se apresenta
diante do povo em sua defesa.
4. Mais uma vez,
Pilatos saiu e disse aos judeus: "Vejam, eu o estou trazendo a vocês, para
que saibam que não acho nele motivo
algum de acusação".
5. Quando Jesus veio para fora, usando a coroa de espinhos e a capa de púrpura, disse-lhes Pilatos: "Eis o homem! "
5. Quando Jesus veio para fora, usando a coroa de espinhos e a capa de púrpura, disse-lhes Pilatos: "Eis o homem! "
A Bíblia de
Estudo Plenitude descreve esta curiosa expressão.
“A expressão Eis o homem não tinha o significado de
um título de honra, mas era uma mistura de piedade e desdém. Pilatos encarava
as exigências de Jesus mais como apropriadas para o ridículo do que para a ação
legal séria”.
Fonte: B.E.P.,
nota 19.5, pág. 1102.
O governador relutava-se em ter qualquer
envolvimento com esta morte, mas a cada tentativa os cínicos fariseus o
instigavam mais e mais.
6. Ao vê-lo, os chefes dos sacerdotes e os
guardas gritaram: "Crucifica-o! Crucifica-o! " Mas Pilatos respondeu:
"Levem-no vocês e
crucifiquem-no. Quanto a mim, não
encontro base para acusá-lo".
7. Os judeus insistiram: "Temos uma lei e, de acordo com essa lei, ele deve morrer, porque se declarou Filho de Deus".
7. Os judeus insistiram: "Temos uma lei e, de acordo com essa lei, ele deve morrer, porque se declarou Filho de Deus".
Os romanos tinham
uma política de tolerância religiosa sobre os povos conquistados, e os fariseus
tentam usar desta tolerância e sua lei como pretextos para matarem a Jesus. Se
Pilatos não acatasse, estaria desrespeitando a religião do povo e colocando o
governo à beira de uma insurreição.
8. Ao ouvir isso, Pilatos ficou ainda mais amedrontado
9. e voltou para dentro do palácio. Então perguntou a Jesus: "De onde você vem? ", mas Jesus não lhe deu resposta.
10. "Você se nega a falar comigo? ", disse Pilatos. "Não sabe que eu tenho autoridade para libertá-lo e para crucificá-lo? "
A aflição de
Pilatos apenas aumentava com o silêncio de Cristo, mas este finalmente o
responde de um jeito que, aos meus olhos, parece haver insolência de sua parte.
11. "Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima. Por isso, aquele que me entregou a ti é culpado de um pecado maior".
Não consigo
entender o porquê, mas desde então Pilatos demonstrou tremenda compaixão para
com o acusado.
12. Daí em diante Pilatos procurou libertar Jesus, mas os judeus gritavam: "Se deixares esse homem livre, não és amigo de César. Quem se diz rei opõe-se a César".
Desta vez os
fariseus usam outra tática cínica: jogar o governador contra o próprio império.
Neste momento os fariseus insistiam que eles não tinham reis, nem mesmo os seus
próprios, além de César, o título romano para os imperadores daquele tempo.
Mas, cedendo ao povo, Jesus é
finalmente condenado e crucificado.
Mais uma vez Pilatos faz algo que
muito me fascina: ele testifica que
Jesus era o rei do judeus não mais oralmente, mas por escrito.
18. Ali o crucificaram, e com ele dois outros, um de cada lado de Jesus.
19. Pilatos mandou preparar uma placa e pregá-la na cruz, com a seguinte inscrição: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.
18. Ali o crucificaram, e com ele dois outros, um de cada lado de Jesus.
19. Pilatos mandou preparar uma placa e pregá-la na cruz, com a seguinte inscrição: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.
Talvez o governador estivesse
sendo irônico, se vingando do povo que o trouxe tamanho desconforto.
Evidentemente os judeus detestaram o
escrito.
21. Os chefes dos sacerdotes dos judeus protestaram junto a Pilatos: "Não escrevas ‘O Rei dos Judeus’, mas sim que esse homem se dizia rei dos judeus".
Mas, desafiador e
triunfante, Pilatos responde:
22. "O que escrevi, escrevi".
João 19:4-22
Encerrando este texto, exponho aqui minhas considerações. A
aflição de Pilatos de maneira alguma é uma apologia à inocência do governador –
eu não me atreveria a tanto –, mas demonstra que mesmo um gentio, ímpio e idólatra
foi capaz de reconhecer a inocência e a virtude de Cristo, das quais não foram
reconhecidas nem pelos judeus.
Pilatos, em seu desprezo por este povo bárbaro e
incivilizado, e despreocupado com suas primitivas crenças
religiosas, a princípio não se importou com o julgamento de Cristo mas, diante
das mais falsas e absurdas acusações ao seu respeito, defendeu-o, arriscando bravamente seu cargo e sua vida.
Hoje a História o acusa de várias coisas: neutralidade covarde,
tirânico e arrogante, executor da morte de Cristo... Mas poucos reconhecem seu
esforço formidável para salvar a
vida do nosso Senhor. Além disso, Pilatos – não sendo um judeu, mas um gentio – reconheceu a majestade divina
do Filho, como o centurião também o reconheceu antes dele (Mt 8:5-13).
Não tenho ódio por Pilatos, mas respeito, por que ele declarou a majestade divina de Cristo,
impressionando inclusive a Jesus (Jo 18:33-34). E ele era um gentio, como eu e você. Não tenho certeza da
salvação de sua alma, mas testemunhos como o de Pilatos me fazem ter certeza
daquela famosa passagem bíblica, que diz:
11. Veio para o que
era seu, mas os seus não o
receberam.
12. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus (...).
João 1:11,12
12. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus (...).
João 1:11,12
- Eduardo Redux